As cenas de selvageria, entre elas um ato coletivo de violência sexual, vistas nos confrontos entre torcedores de Santa Cruz e Sport, no sábado (1º), antes do jogo entre os rivais pelo Campeonato Pernambucano, levaram o presidente da FPF (Federação Pernambucana de Futebol), Evandro Carvalho, a determinar clássicos com torcida única até o final da competição.
Em nota, a entidade afirmou que o dirigente, ex-delegado, já era favorável à medida anteriormente. No seu entendimento, essa é a melhor forma de combater a violência no futebol.
“Nós acreditamos que essa é a alternativa mais eficaz para coibir episódios de violência sem penalizar os verdadeiros torcedores com partidas de portões fechados”, diz um trecho do comunicado da FPF.
Embora faça uma defesa da medida para os estádios, a própria entidade cita em seu texto que as brigas não ocorreram nos arredores do Arruda, casa do Santa Cruz. As cenas foram registradas em vários pontos da capital pernambucana.
Além da imposição feita pela FPF, o governo de Pernambuco anunciou a proibição da presença de torcidas de Santa Cruz e Sport nos próximos cinco jogos das equipes em qualquer competição, em casa e também como visitante.
O Sport se manifestou contra a medida, assim como a FPF. O Santa Cruz, por sua vez, preferiu não se opor.
Após a briga do último sábado, 13 pessoas feridas foram levadas ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby, na área central do Recife. Uma delas segue internada em estado estável, informou o hospital.
Segundo a Polícia Civil, 13 pessoas foram detidas por violência após incidentes nos bairros da Iputinga, Torre e Madalena.
De acordo com o jornal Diário de Pernambuco, o confronto foi premeditado, e a polícia tinha ciência dos planos bélicos. A publicação cita um relatório da DPRIE (Delegacia de Polícia de Repressão à Intolerância Esportiva), responsável por reprimir a violência em jogos de futebol, segundo o qual integrantes das organizadas estavam marcando “pistas”, como são chamadas as brigas, e “utilizando plataformas de redes sociais para disseminar o ódio e a rivalidade entre os envolvidos”.
O documento afirma: “O monitoramento dessas agremiações foi realizado [pela Polícia Civil], e vimos que os envolvidos se preparam para possíveis confrontos em 1º de fevereiro de 2025”.
O monitoramento tinha o objetivo de impedir justamente que a briga ocorresse. Vídeos do confronto, no entanto, mostram que a selvageria ocorreu em vários pontos da cidade.
Em um deles, um homem é espancado por um grupo de homens, alguns deles com camisas do Santa Cruz. Ele é, então, arrastado por uma rua e tem suas roupas arrancadas, em meio a agressões com socos, chutes e pauladas.
Despida, a vítima sofre violência sexual por diversos homens que usam objetos similares a barras de ferro, enquanto ainda é agredida na cabeça.
Em entrevista ao portal UOL, o presidente da FPF lamentou o ocorrido e reconheceu que a imposição da torcida única é uma “posição radical”: “Entendo que essa medida prejudica o torcedor de bem, mas o interesse público prevalece ao interesse privado”.
Evandro Carvalho disse, ainda, que estudou a adoção de torcida única em outros estados, como São Paulo. “Eu colhi dados de São Paulo nos últimos seis anos, que dizem que houve uma redução de incidente de natureza policial em torno de 70%. Não é a medida ideal, é politicamente incorreta, pune quem não tem culpa, mas entendo que é absolutamente necessária.”
O estado de São Paulo foi o primeiro adotar o modelo, em 2016, quando clássicos envolvendo Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos passaram a ser realizados somente com a presença de torcedores do time da casa. Depois, em 2019, a lista passou a incluir Ponte Preta e Guarani.
A imposição, defendida até por alguns dirigentes de clubes, não tem sido comprovadamente eficaz. Levantamento realizado Folha em 2022 mostrou que os casos continuaram sendo registrados com frequência, algo que se manteve de lá para cá.
No exemplo mais recente, na semana passada, torcedores de São Paulo e Corinthians travaram um confronto em uma avenida na zona oeste da capital, horas antes do clássico entre as equipes no Morumbi. A Polícia Civil investiga as circunstâncias da briga.
Depois de São Paulo, outros estados passaram a proibir duas torcidas em clássicos como medida para combater a violência no futebol. Rio Grande do Norte, Bahia, Goiânia e, mais recentemente, Minas Gerais seguiram o caminho mais restritivo.
Outras federações adotaram medidas semelhantes, porém menos restritivas, como limitar a presença dos visitantes, em alguns casos a até 10% da capacidade dos estádios. É assim no Rio de Janeiro, em Santa Catarina, no Paraná e em Alagoas.
noticia por : UOL