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domingo, janeiro 26, 2025

Vereadora é ameaçada após propor lei contra música com apologia ao crime

A prefeitura deveria destinar recursos públicos para contratar artistas que fazem apologia ao crime? Eis o debate do momento na Câmara de Vereadores de São Paulo.

Recém-empossada, a vereadora paulistana Amanda Vettorazzo (União) apresentou nesta semana um projeto de lei que proíbe a prefeitura de contratar artistas que exaltem o crime organizado ou as drogas.

Amanda, que é uma das coordenadoras do MBL (Movimento Brasil Livre), declarou que o projeto tinha como alvo principal o rapper Oruam. “No que depender de mim, artistas como o Oruam ficarão proibidos de fazer show aqui na cidade de São Paulo com o meu e com o seu dinheiro, como na Virada Cultural”, disse Amanda, no vídeo em que anunciou ter apresentado o projeto.

Oruam é um dos artistas de trap (modalidade derivada do rap) mais populares do país. Ah, sim: ele é filho orgulhoso do traficante Marcinho VP, que cumpre pena mais de 50 de prisão por — dentre outras coisas — mandar matar e esquartejar inimigos. O artista também é sobrinho de Elias Maluco, que mandou matar o jornalista Tim Lopes em 2002. O cantor, de 23 anos, tem uma tatuagem com o rosto do pai e uma com o rosto do tio.

Ele não gostou da proposta de Amanda Vettorazzo.

Vereadora relata ameaças de fãs de Oruam

Depois que a vereadora anunciou o projeto, não demorou para que o rapper reagisse, em vídeos divulgados na sua página no Instagram.

Dentre outros impropérios dirigidos à vereadora, Oruam soltou uma frase que pode ser entendida como uma ameaça: “É só tu não falar (sic) o meu nome, senão tu vai conhecer o capeta”, ele disse.

Oruam também conclamou os seguidores (8,7 milhões) a mandar mensagens a Amanda no Instagram. “Tropa do 22 vamos dar fama pra ela”, ele escreveu, identificando o perfil da vereadora. “Tropa do 22” é como ele se refere aos próprios fãs.

Depois disso, Amanda passou a receber ameaças de morte em seus perfis nas redes sociais. Ela exibiu prints das conversas e, nesta quinta (23), registrou queixa na Polícia Civil de São Paulo.

Nesta sexta (23), a vereadora afirmou que sua ideia ganhou adeptos. “Apesar das ameaças, recebi diversas mensagens de apoio e ligações de vereadores por todo o Brasil falando que também irão protocolar a Lei Anti-Oruam em seus municípios”, ela escreveu, em seu perfil na rede social X.

Trap é sucesso com exaltação ao crime

O gênero trap, uma variação do rap, se tornou extremamente popular nos últimos anos. Os artistas desse estilo produzem letras que combinam ostentação, sexualidade vulgar e, frequentemente, apologia ao crime.

Em muitos casos, é difícil saber se as letras que tratam de atos ilícitos são pura invenção ou se retratam episódios reais. Mas, no caso de Oruam, a conexão com o crime é mais óbvia. O artista costuma exaltar o pai em versos como este:

“Crime rola lá na boca, lá na boca o crime rola

Menorzin vendendo droga, matando aula na escola

Eu sigo a risca do meu pai

Por isso eu não vacilo pelas ruas do RJ”

Com a alta na popularidade, alguns artistas de trap passaram a ser contratados pela Prefeitura de São Paulo para apresentações na Virada Cultural, o maior evento do ano na cidade.

Oruam cantou na edição de 2023 do festival.

Virada de 2024 teve artistas que exaltam o crime

Em 2024, a prefeitura de São Paulo também contratou para a Virada Cultural artistas que exaltam as drogas e o crime, como a dupla WIU e Teto. Em uma das canções mais populares deles, Teto diz o seguinte sobre si mesmo:

“O TT não fecha com polícia

O TT exterminando os ratos”.

No videoclipe, exatamente neste trecho, ele faz um gesto de disparar uma arma com a mão. O vídeo teve mais de 22 milhões de visualizações desde que foi lançado.

Em outro videoclipe, lançado neste mês,Teto aparece produzindo e consumindo haxixe enquanto a música usa termos chulos para se referir às mulheres.

MC Lipi, outro contratado da prefeitura, lançou há dois meses a música intitulada “A Quadrilha”. 

O cantor Matuê, cuja exaltação da maconha é quase caricata de tão repetitiva, também estava na lista de atrações da Virada Cultural de 2024.

A Virada Cultural de 2024 custou quase R$ 60 milhões, entre cachês de artistas e gastos com a infraestrutura para os shows.

noticia por : Gazeta do Povo

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