PATRÍCIA CAPITANIO
O início de um relacionamento costuma ser marcado por encantamento, descobertas e muitas promessas. Mas, com o tempo, o que era “nós dois contra o mundo” pode se transformar em longas discussões sobre boletos atrasados, gastos excessivos ou sonhos adiados. Afinal, por que tantos casais brigam por dinheiro?
A resposta é simples — e ao mesmo tempo profunda: dinheiro não é só dinheiro. Ele carrega valores, crenças, inseguranças e histórias. Quando essas camadas não são compreendidas, o orçamento vira campo de batalha. E o amor, sem querer, vira refém do silêncio financeiro.
O dinheiro como motivo (ou sintoma) da separação
Pesquisas apontam que problemas financeiros estão entre as principais causas de separação. Mas não é necessariamente a falta de dinheiro que separa. É o jeito como o casal lida com ele:
• Um gasta demais, o outro economiza tudo.
• Um esconde dívidas, o outro sonha com investimentos.
• Um quer viver o agora, o outro planeja o futuro.
Quando não há diálogo, confiança e alinhamento, o dinheiro deixa de ser ferramenta e passa a ser obstáculo. Pequenas decisões do dia a dia, como “por que comprou isso?” ou “não era hora de economizar”, viram gatilhos emocionais que desgastam a relação.
Dinheiro nunca é só dinheiro
Ele representa:
• Segurança para quem passou por privações
• Liberdade para quem se sentiu controlado
• Status para quem teve baixa autoestima
• Afeto para quem cresceu sem amor, mas com presentes
Por isso, cada pessoa traz para o relacionamento um histórico emocional com o dinheiro. Quando essas histórias se encontram, e não são conversadas, acontecem os conflitos invisíveis.
Perfis financeiros diferentes geram atritos
Imagine esse casal:
Ela foi criada para guardar cada centavo, cresceu vendo os pais endividados, sente ansiedade só de pensar em parcelar algo.Ele vem de uma família que valoriza viver o presente. Gasta com naturalidade, presenteia, viaja sem olhar tanto o saldo.
No começo, essas diferenças parecem complementares. Com o tempo, podem virar acusação: “Você é mão de vaca.” “Você é irresponsável.”
O problema não está em quem está certo — mas na falta de alinhamento e respeito mútuo.
O que está por trás da briga financeira?
Casais não brigam só pelo valor gasto — eles brigam pelo significado daquele gasto.
Aquela compra por impulso pode esconder um desejo de liberdade. A cobrança por economizar pode refletir medo do desemprego.O silêncio sobre dívidas pode vir da vergonha ou de traumas familiares. A origem do conflito financeiro quase sempre está nas emoções mal resolvidas e elas só se desfazem com vulnerabilidade, escuta e maturidade.
Cinco sinais de que o problema não é dinheiro, é falta de alinhamento:
• Negam o problema até que ele vire uma bola de neve
• Sentem culpa, vergonha ou cobrança
• Evitam planos futuros por medo do fracasso
• Evitam falar sobre contas ou gastos
• Existe comparação constante de “quem contribui mais”
Se você se identificou com algum desses sinais, saiba: isso é mais comum do que parece. Mas também é mais fácil de resolver do que se imagina — quando há disposição dos dois lados.
Como evitar que o dinheiro afaste vocês
1. Abram o jogo com carinho: falar de finanças é tão íntimo quanto falar de sentimentos. Troquem experiências, conversem como o dinheiro era tratado na infância, quais são seus medos e sonhos.
2. Criem metas em comum: planejar uma viagem, quitar uma dívida ou montar uma reserva pode unir mais do que qualquer presente.
3. Estabeleçam acordos: o que é justo para vocês? Quanto cada um pode contribuir? Ter regras claras evita cobranças disfarçadas de críticas.
4. Respeitem as individualidades: cada um tem um ritmo, um histórico, uma visão. Finanças a dois não significam perder a autonomia.
5. Busquem ajuda se necessário: terapia de casal ou orientação financeira pode ser libertador. Às vezes, uma conversa mediada salva a relação.
Dinheiro não destrói o amor. Mas a falta de conversa, sim.
O amor não acaba porque a conta bancária está no vermelho. Ele se desgasta quando os silêncios se acumulam, quando os sonhos não são mais compartilhados, quando o parceiro se torna um estranho nas decisões mais importantes da vida.
Neste Dia dos Namorados, celebre mais que o romantismo: celebre a parceria.
Porque amar é também planejar juntos, crescer juntos e escolher, todos os dias, caminhar com propósito — inclusive financeiro.
E se o amor ainda não cabe no orçamento, talvez seja hora de redesenhar o orçamento.Mas nunca deixar o amor fora do plano.
Patrícia Capitanio, é Palestrante, Consultora Financeira, sócia da empresa W1 Consultoria Financeira, autora do livro Consultório Lucrativo, com 17 anos de experiência no mercado financeiro
FONTE : ReporterMT