Em uma tentativa de lançar algo semelhante ao famoso boné vermelho usado pelo atual presidente americano, Donald Trump, com a frase “Make America Great Again” (em português, “Faça a América grande de novo”), a base governista de Lula passou a vestir um boné azul com os dizeres: “O Brasil é dos brasileiros”.
Criada como estratégia para se opor aos bolsonaristas que apoiam Trump – inclusive adotando a cor azul, associada ao Partido Democrata nos EUA –, a campanha encabeçada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, contou com a adesão de diversos políticos. O presidente Lula, inclusive, apareceu em um vídeo usando o boné.
A ideia, no entanto, pode representar mais um revés do ministro na tentativa de melhorar a imagem do governo.
Isso porque, além de críticas de que a ação estaria servindo como cortina de fumaça para problemas mais graves, como a inflação dos alimentos, a frase, criada por Sidônio flerta com o fascismo alemão e italiano.
Slogans nacionalistas na Alemanha de Hitler
Michel Gherman, professor de Sociologia da UFRJ e coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos (NIEJ), explica que o slogan étnico nacionalista “Alemanha para alemães” (“Deutschland den Deutschen”) surgiu na década de 1930, após acontecer uma grande ocupação de turcos e árabes na Alemanha.
Estes imigrantes estavam fugindo da Síria depois que a Grande Revolta (1925 a 1927) da população fracassou contra as forças francesas que dominavam o país na época. O slogan também foi usado pela juventude hitlerista.
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Itália para os italianos
Na mesma linha nacionalista, milhares de turistas visitam anualmente Predappio, cidade onde o ditador fascista Benito Mussolini nasceu e está enterrado. A peregrinação fomentou a economia do fascismo no local.
Lojas na cidade vendem camisetas, canecas, isqueiros, vinhos com imagens do “il Duce”, como o líder italiano era chamado. Hitler também é homenageado em peças vendidas na região.
Além do “Eu te amo, Duce”, os souvenirs são impressos com a frase: “L’Italia agli Italiani” (Itália para os italianos). O slogan foi o mesmo adotado, em 2018, pelo Forza Nuova, uma coalizão composta por partidos políticos de extrema direita na Itália, tendência política que os petistas tentam associar a Bolsonaro, mas que agora virou fonte de inspiração para seu boné.
Desviar o foco
Na análise de Marcelo Vitorino, professor de marketing político da ESPM Rio, a campanha do “boné azul” no Brasil deu certo dependendo do ponto de vista publicitário.
“Se o objetivo é tirar o foco da mídia das questões mais relevantes, então, está sendo bem-sucedida, pois distraiu a imprensa e a população do gosto ruim que foi causado pela perda de reputação com a história do PIX”, diz.
“Agora, se for para gerar engajamento, é inócua, pois tem pouco efeito prático no mundo real. A campanha está se valendo pela polêmica e não pelo mérito do conteúdo. Ou seja, [abre mão] de discutir pautas importantes para falar de política partidária ideológica”, avalia.
Quanto à mensagem, Vitorino acredita que, de fato, a frase tem “tendência fascista”. “Mas não acho que a população tem o domínio para entender esse movimento. O brasileiro não vai fazer esse vínculo direito”.
Para além do sentido da frase, a “briga dos bonés” ganhou um tom de disputa quase juvenil. Depois do vermelho e azul, Ciro Gomes surgiu com um amarelo escrito “Vão trabalhar vagabundos”. E deputados do PL usaram bonés nas cores verde e amarelo com a frase “Comida barata novamente, Bolsonaro 2026”.
noticia por : Gazeta do Povo