Um estudo realizado pelo de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) indicou a presença do vírus da covid-19 em dois cães em Curitiba. Com isso, o debate sobre uma possível transmissão do vírus para os humanos foi reaberto.
Nos dois casos registrados no Paraná, os tutores dos animais tiveram a covid-19 e notaram sintomas nos cães — como discreta secreção nasal e espirros. Antes, uma gata de Cuiabá também já tinha registrado a presença do vírus. Fora do Brasil, também existem alguns relatos. Entretanto, isso não significa que o animal tem a doença ou seja transmissor dela.
“O estudo mostra que o vírus contamina os animais, tanto cães quanto gatos e até outros felinos. Mas essa contaminação não quer dizer que a doença se desenvolveu. Esses sinais são muito sutis e, pelo menos até agora, não indicam uma doença como a que atinge humanos. Além disso, a única forma de transmissão de animais para humanos seria de forma passiva, por transportar o vírus através do pelos”, explica o médico veterinário e diretor da Plamev Pet, Raphael Clímaco.
Ainda assim, para isso, seria necessário que o tutor espirrasse em cima do animal e outra pessoa tivesse contato com ele quase que imediatamente.
Por isso, é importante esclarecer alguns tabus. A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um comunicado oficial deixando claro que animais de estimação não são uma ameaça durante a pandemia, após ser constatado que a “desinformação estava levando ao medo e resultando em cruel abandono e sacrifício de gatos e cães”.
E é sobre isso que fala o virologista da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Eduardo. “Cães e gatos não têm papel na transmissão. [Essas informações precipitadas] só geram pânico nas pessoas e mais medo dos animais. Pode, inclusive, aumentar o risco de maus tratos.”
O caminho é justamente o contrário: os cuidados com os animais domésticos devem ser reforçados nesse período, tanto pela própria saúde quanto pela saúde de seus tutores. Entre os mais importantes: os passeios não devem ser evitados — desde que respeitem o distanciamento social e evitem aglomerações. O mesmo vale para as visitas ao pet shop e médico veterinário.
“O vírus tem pouca resistência em superfícies sem vida, então pode passear tranquilamente, mas não podemos esquecer de infecções bacterianas e parasitas. Então, mesmo sem o risco de covid-19 para eles, a higienização é indicada. Para isso existe shampoo específico, lenços umedecidos, calçados e meias protetoras. Tudo isso próprio para animais”, completa Raphael Clímaco.
Visita ao veterinário
Além das medidas de higiene do dia-a-dia, o cuidado com os animais domésticos precisa ir além. Uma pesquisa realizada pela Royal Canin em agosto de 2020 mostrou que, durante a pandemia, a procura pela adoção e compra de gatos cresceu 30%. Porém, 43% deles não levaram o pet ao veterinário nenhuma vez desde que a adoção aconteceu.
“Já não é comum, de forma cultural, levar o pet no veterinário para fazer check-up. E isso é ainda mais negligenciado quando falamos de gatos”, explica a médica veterinária da Royan Canin, Natália Lopes.
Dos que já tinham gatos antes desse período, 29% diminuíram a frequência das consultas. Em junho, 67% das clínicas e hospitais veterinários relataram queda no faturamento. “Com isso, a gente vê uma certa negligência. É comum o pensamento de que os animais são práticos e não ficam doentes, mas isso é errado. O gato demora mais para mostrar sintomas clínicos. Quando mostram, a doença já está avançada”, completa Natália.
Texto: Duda Rosana / GAZETA