quinta-feira, 12, junho , 2025 04:46

Mauro Cid é traidor?

Com alguma surpresa. Não, minto, foi com muita surpresa que vi algumas pessoas chamarem Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, de traidor. Cid que, você sabe e se não sabe fica sabendo agora, fez a delação premiada na qual se baseia toda a acusação de tentativa de golpe. Essa farsa vergonhosa que entrará para a história como um dos maiores vexames da nossa infame democracia relativa.

Mas antes de continuar com o texto eu quero saber: o que você estaria disposto a sacrificar em nome de uma ideologia, de um partido, de um grupo político, de uma esperança remota de recuperar o poder? Pensa e enquanto você pensa aí eu aproveito para fazer umas digressões mais ou menos aleatórias aqui.

Precisa-se

Por exemplo: precisa-se. Não precisa procurar muito. Dê uma olhada por aí. Talvez até aqui mesmo, na Gazeta do Povo, as opiniões estejam cheias de textos que precisam com precisão as precisências (precisânias?) do Brasil e do mundo. Para recuperarmos a democracia é preciso isso. Para a direita voltar ao poder é preciso isso. Para termos prosperidade. Para diminuirmos a violência e a corrupção. Ah, você entendeu.

Está cheio disso e aqui vou eu contribuir para essa abundância: o mundo precisa recuperar a noção de nobreza do martírio. E quando me refiro a martírio aqui não estou falando a se submeter ao pelotão de fuzilamento em nome de uma causa – ou da fé. Falo da capacidade de, com altivez, suportar o fracasso, o cancelamento, o ostracismo, a miséria e o desprezo em defesa da Verdade.

Siiiiiiiiiiim!

Há nobreza, por exemplo, em propor o perdão, e não a indignação ressentida e o desejo de vingança disfarçados de “ira santa”. Mesmo que você seja xingado de isentão ou de fraco. Mas digresso. No mais, se meus cálculos estiverem certos a esta altura você já pensou o bastante na pergunta que fiz lá no começo: você estaria disposto a ficar preso, a ser humilhado e a ficar longe da família da proteger uma causa política? No Brasil? Em 2025?

Imagino que algumas pessoas tenham respondido “sim” a essa pergunta e tudo bem. Discordo, tenho dificuldade para acreditar, mas respeito e até peço desculpas, porque minha lealdade a essa ideologia difusa que atende pelo mal-ajambrado apelido de “direita” é pouca e está submetida a uma lealdade maior e não-ideológica. E acho que a maioria das pessoas é assim, por mais que gostem de bancar os cruzados de sofá no conforto de suas casas.

Honra imaculada

Dessa discordância é que nasce minha desconfiança desses (espero que não você) que chamam Mauro Cid de traidor. É muito fácil exigir coragem dos outros. Fácil e tentador. Mais fácil ainda é exigir dos outros lealdade à direita ou ao bolsonarismo e ficar xingando de traidor alguém que se viu tendo de escolher entre a causa e a família; entre a causa e a liberdade; entre a causa e a vida.

E eu sei que você vai me dizer que no lugar dele faria diferente. Mas será que faria mesmo? Tem certeza? Certeza absoluta? Pois bem. Já que você insiste, vou ter que perguntar o que você estaria disposto a sacrificar em nome da sua família, da sua liberdade e da sua vida? Ou será que a sua “honra imaculada” vale mais do que essas coisas todas?

Em tempo

Em tempo: não sei se concordo com a atitude de Mauro Cid. Tampouco sei se estaria disposto a sacrificar a verdade, isto é, a mentir e prejudicar outras pessoas, amigos de outrora, em nome da família, da liberdade e da vida. Aliás, nem sei se ele chegou a mentir. Só sei que rezo para que jamais tenha de fazer as mesmas escolhas que Mauro Cid e os outros acusados de tentativa de golpe tiveram e ainda terão de fazer em suas vidas.

noticia por : Gazeta do Povo

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

PUBLICIDADE

NOTÍCIAS

Leia mais notícias