domingo, 18, maio , 2025 06:39

Janja: “Não tá nada fácil aguentar o machismo neste mundo”

Querido diário,

Tá na hora de você dar vazão a esse seu lado feminino e virar querida diária, porque, sinceramente, não sei se vou continuar confiando a vocês meus pensamentos mais recônditos e minhas reflexões mais profundas se você continuar masculino. Humpf. Olha, não tá nada fácil aguentar o machismo e a misoginia neste mundo.

Pra você ter uma ideia, nos últimos dias quase perdi a vontade de comprar. Quase. Tenho sofrido ataques insuportáveis, querido diário, só porque eu pensei, tipo assim, sei lá, e se a gente aproveitasse o now-haw (é assim que se escreve?) da China pra impedir as crianças brasileiras de se tornarem fascistinhas vendo coisa no Tik Tok? Senão, que tipo de monstros estamos criando? Vejam as crianças chinesas, por exemplo. Todas iguaizinhas, todas amando o partido e o seu líder. E isso o que eu quero para o futuro do Brasil.

Eu sou f—

Sendo atacada. Que absurdo. Eu deveria era receber uma medalha, de preferência de ouro e cravejada de brilhantes. Mas é aquilo que o presidente do Sindicato Nacional dos Caminhoneiros e Poetas me disse uma vez: a inveja é uma eme. E é por isso que tá cheio de gente, inclusive uns amigos do Meu Marido, que eu sei, falando mal de mim. Vazando essas coisas pra imprensa fascista. Dizendo que eu cometi gafe. Primeira dama não comete gafe; primeira dama lança tendência.

Sorte que eles são tão burros e ficaram tão entretidos com o que eu falei sobre o Tik Tok que nem perceberam que euzinha estava lá, no jantar, no meio de uma negociação com a China (a China, cara!), na presença do Xi Jinping (o Xi Jinping, cara!), mesmo sem ter cargo nem voto nem nada. Só porque eu sou a mulher do Meu Marido. Só porque eu sou poderosah! Só porque eu sou, vamos combinar?, eu sou f—.

[emoji de olhinho revirado]

E tem também a coisa das 200 malas que dizem que eu levei pra Rússia. Só se eles estiverem falando dos malas-sem-alça dos amigos do Meu Marido. Essa esquerda velha e ultrapassada. E nem assim dava 200. A Tebet, affffff. A Marina [emoji de olhinho revirado] Ui. Não quero nem ver a cara daquele Rui Costa.

Aliás, dos amigos do Meu Marido eu acho que só gosto mesmo do Pochmann. Que homem! Que artista! Que visionário. Aquele negócio lá do mapa invertido é coisa de gênio. Como é que ninguém pensou naquilo antes? O Pochmann tinha que entrar pra Academia Brasileira de Letras! Tinha é que ganhar o Nobel de Geografia!

Esse povo imagina cada coisa…

Sobre as 200 malas com trilhões de dólares… Pessoal inventa cada coisa, né? Pura maldade. Como se uma primeira dama, esposa de um homem como o Lula, um político com um inquestionável histórico de honestidade, indo a um festerê cheio de autoridades semidemocráticas, engajadas na luta contra a pobreza, o racismo e a liberdade de expressão, fosse capaz de levar 200 malas cheias de dinheiro para um país transparente como a Rússia, governada por aquele loirão de olhos tão penetrantes quanto um míssil numa escola cheia de crianças ucranianas. Esse povo imagina cada coisa, viu!

Que mais? Ah, sim. Assisti pela 13ª vez à obra-prima “Ainda Estou Aqui”, que foi lançado na China. Não sei se já te falei, querida diária, mas é o melhor filme que eu já vi na vida. Minto. “Lula, o Filho do Brasil” é melhor. Mas, ah, tão linda a defesa da liberdade que o Waltinho faz. Sempre choro naquela parte em que a Eunice faz o sacrifício de deixar de dar mesada pras crianças a fim de pagar o salário da empregada e de trocar o caviar pela ova de truta na despensa.

Pastel de flango

O cinema tava lotado de chinês, mas parecia que era uma pessoa só. Na hora em que eu fui falar de liberdade pra eles, pensei até em fazer uma piada com pastel de flango, mas achei melhor não. Pastel de flango. Eu rio só de lembrar. E os chineses lá, chorando com o filme, e eu toda feliz de poder mostrar essa obra magnífica praquele povo sofrido, mas que teve a sorte de nunca ter enfrentado uma ditadura tão cruel quanto a nossa.

Mas agora dá licença que eu vou voltar aqui pras minhas comprinhas na Shopee. Sem frete e sem imposto. Tem umas brusinha linda. Olha essa daqui, vermelha. Linda! Olha essa outra, amarela. Ah não, essa tem um detalhezinho verde. Não dá. Olha essa afrocromática. Perfeita pra mim usar no velório do Zé Mujica. Aliás, oba! Mais uma viagem à custa do trouxa do contribuinte.

noticia por : Gazeta do Povo

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