Casa Branca trava batalhas com chineses em torno de temas como importação de produtos, tráfico de fentanil e inteligência artificial. Analistas avaliam que a medida faz parte da ‘política de intimidação’ do republicano. O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de uma reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping, durante a cúpula dos líderes do G20 em Osaka, Japão, 29 de junho de 2019.
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Desde que assumiu o poder, o presidente dos EUA, Donald Trump, ainda não falou com o líder chinês, Xi Jinping. Na semana passada, a Casa Branca disse que uma ligação entre os dois acontecerá “em breve”.
Na pauta, estarão políticas que Trump vem aplicando para tentar frear o avanço da China na geopolítica mundial.
Na medida mais recente do governo americano, o serviço de correios dos EUA suspendeu, temporariamente, a entrada de encomendas da China e de Hong Kong. A China reagiu, acusando Washington de repressão econômica e prometendo represálias.
A medida vem depois de o governo Trump impor novas tarifas de 10% sobre produtos chineses e eliminar isenções para pacotes de baixo valor. Em resposta, a China anunciou tarifas sobre carvão, gás natural e veículos, além de novas investigações contra empresas americanas.
O Ministério das Relações Exteriores chinês pediu que os americanos “parem de politizar questões econômicas”.
Mesmo antes do novo governo republicano, Pequim já estava na mira dos americanos. A guerra de tarifas com a China é apenas o episódio mais recente de uma escalada de tensão entre os dois países.
Veja outros momentos de entre os dois países.
Fentanil
Estados Unidos sofrem com uma epidemia de fentanil.
Reprodução/Profissão Repórter
Uma das justificativas para a aplicação de tarifas sobre a China citadas por Donald Trump é o fracasso de Pequim em impedir a exportação de produtos químicos utilizados na produção do Fentanil e similares (opióides sintéticos) nos EUA.
A droga, que chega a ser mais de 50 vezes mais potente que a morfina, tem causado uma crise de saúde pública nos EUA – e lidera as mortes por overdose no país desde 2015.
Uma pequena dose da droga, cerca de 2 miligramas, já é capaz de ser letal. A quantidade representa pouco menos que uma ponta de lápis.
Mais de 74 mil americanos morreram em 2023 após tomarem misturas de medicamentos contendo fentanil, de acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA.
A Casa Branca também acusou o Canadá e o México de não terem conseguido impedir que grupos criminosos contrabandeassem fentanil para os EUA. Trump suspendeu a ameaça de tarifas sobre produtos mexicanos e canadenses depois de obter algumas concessões sobre o aumento da segurança fronteiriça.
O Assunto #1.052: Fentanil e a crise dos opioides nos EUA
Deep Seek
Na última semana de janeiro, a startup chinesa DeepSeek surpreendeu o mundo e movimentou os mercados de ações com o lançamento de um modelo de inteligência artificial. O programa, que utiliza código aberto, rivaliza com modelos avançados já no mercado, como o GhatGPT, da OpenAI, e Google Gemini – mas com um custo muito menor.
Os downloads do assistente de IA chinês chegaram a superar os do ChatGPT em lojas de aplicativos online.
O extraordinário sucesso do DeepSeek despertou receios na comunidade de segurança nacional dos EUA de que os produtos de IA mais avançados dos Estados Unidos possam já não ser capazes de competir com alternativas chinesas mais baratas.
Donald Trump disse que a tecnologia da startup chinesa deve servir de alerta para as empresas americanas. Diversos países, como EUA, França, Itália e Alemanha, decidiram bloquear o aplicativo com a justificativa de proteger os dados de usuários.
TikTok
Ilustração mostra Donald Trump.
Rafael Dedoni e Ian Caldas/Globonews
Após muita polêmica nos EUA e meses de embate nos tribunais, o aplicativo TikTok está sob pressão para encontrar um novo proprietário até abril. No fim de janeiro, o presidente Trump adiou por 75 dias a lei que exige que o aplicativo da empresa chinesa ByteDance seja vendido para uma empresa dos EUA, ou seria banido do país.
A lei foi assinada pelo democrata Joe Biden, antecessor de Trump, e teve muito apoio do congresso. A Casa Branca alega que o TikTok coleta dados confidenciais de americanos e que isso representa um risco à segurança nacional, alegando que Pequim poderia usar informações de mais de 170 milhões de usuários americanos para espionagem.
A ByteDance nega as acusações.
Em meio às idas e vindas judiciais sobre o bloqueio do aplicativo, o TikTok chegou a ficar 12 horas fora do ar.
Google
A China retaliou a aplicação de tarifas dos Estados Unidos com uma série de medidas que visam as empresas americanas. Após revidar com restrições às importações, Pequim também lançou uma investigação antitruste sobre a empresa Google.
O anúncio foi feito de forma vaga na internet, mas impulsionou a disputa geopolítica entre EUA e China.
O Google tem uma história difícil na China. A empresa retirou a ferramenta de busca da China em 2010 devido à censura governamental. A empresa também alega que foi alvo de um ataque cibernético de hackers chineses que tentavam obter acesso a contas de e-mail de ativistas dos direitos humanos.
O Google disse que mantém uma presença limitada na China, com a maior parte da atividade focada em ajudar as empresas chinesas a se conectarem com clientes e públicos fora do país.
O Google possui o mecanismo de busca mais utilizado do mundo e também lidera o mercado de publicidade digital. A empresa enfrentou investigações antitruste em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos, Canadá, Europa e Coreia do Sul.
A política da Intimidação
Trump diminui o tom e fala em novo acordo comercial com a China
Desde que voltou à presidência, no fim de janeiro, Donald Trump trava conflitos com outros países com intimidações, reviravoltas e incertezas — e sobe o tom gradativamente nas provocações.
Em entrevista ao jornalista Nilson Klava, da Globonews, o presidente global de operações da Ambipar, Roberto Azevêdo, defendeu que as tensões elevadas pelo republicano e a imposição de tarifas não têm nada a ver com o comércio.
“Isso se deve, em larga medida, à percepção do presidente Trump, em particular, de que o sistema multilateral global internacional – que os EUA criaram depois da Segunda Guerra Mundial – já não serve aos interesses americanos, já não reflete a hegemonia americana no mundo. Porque é um sistema burocrático, lento. Os EUA não conseguem impor a sua vontade. Então é necessário, na lógica dele [Trump], um novo sistema, uma nova ordem internacional”, afirmou.
O analista político para o mercado financeiro Terry Haines disse ao Jornal Nacional que as tarifas aceleram o processo de trazer outro país mais perto – e os EUA usam essa tática de negociação há décadas. Para ele, ameaçar nações ajuda no processo de trazer os governos para mais perto.
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Fonte: G1