O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou o corte da assistência financeira à África do Sul nesta sexta-feira (7). Para justificar a medida, o republicano mencionou que desaprova a política sul-africana de terras e a acusação de genocídio que o país apresentou no Tribunal Internacional de Justiça contra Israel, aliado de Washington, pelos ataques militares na Faixa de Gaza.
Trump havia ameaçado cortar o financiamento para a África do Sul logo após assumir a presidência, em 20 de janeiro. Segundo os dados mais recentes do governo americano, os EUA destinaram quase US$ 440 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) em assistência ao país em 2023.
Segundo a Casa Branca, que anunciou o corte, os EUA formularão um plano humanitário que prevê o reassentamento de agricultores africâneres —o principal grupo de descendentes brancos de colonos holandeses e franceses— e suas famílias na África do Sul como refugiados, por meio do Programa de Admissão de Refugiados dos Estados Unidos.
O Ministério das Relações Exteriores da África do Sul reagiu ao anúncio neste sábado (8). “Estamos preocupados com o que parece ser uma campanha de desinformação e propaganda. A premissa subjacente deste decreto é factualmente imprecisa e não reconhece a profunda e dolorosa história de colonialismo e apartheid da África do Sul.”
“É irônico que o decreto preveja status de refugiado nos EUA para um grupo na África do Sul que permanece entre os mais privilegiados economicamente, enquanto pessoas vulneráveis nos EUA de outras partes do mundo estão sendo deportadas e tendo asilo negado apesar de dificuldades reais”, disse o ministério.
Trump afirmou, sem citar evidências, que “a África do Sul está confiscando terras” e que “certas classes de pessoas” foram tratadas “muito mal.” O bilionário Elon Musk, que é sul-africano, disse que os cidadãos brancos do país foram vítimas de “leis de propriedade racistas.”
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, defendeu a lei sancionada por ele no mês passado, que prevê a expropriação de terras pelo Estado por interesse público, e afirmou que o país não será intimidado. Ele negou que o objetivo da lei seja confiscar lotes, e afirmou que a política visa equilibrar as disparidades raciais na posse de terras na nação de maioria negra.
A África do Sul tem uma história de conquista colonial e desapropriação que empurrou a maioria negra para bairros urbanos superlotados e reservas rurais, enquanto a maior parte das terras agrícolas foi dada pelos mestres imperiais britânicos do país aos brancos. Em 1950, o Partido Nacional Africâner aprovou uma lei que tomou 85% do território para si e expulsou 3,5 milhões de negros de suas terras ancestrais.
Nos 30 anos em que o Congresso Nacional Africano (CNA), sigla de Nelson Mandela, está no poder, alguma restituição de terras ocorreu, mas críticos denunciam lentidão no processo e acusam os proprietários brancos de acumulação. Os brancos ainda possuem três quartos das terras agrícolas no país, enquanto proprietários negros têm 4%, segundo auditoria de terras de 2017. Os grupos representam, respectivamente, 8% e 80% da população sul-africana.
A Casa Branca também alegou que a África do Sul toma posições contra os EUA e seus aliados. Isso porque o país apresentou ao Tribunal Internacional de Justiça uma denúncia que acusa Israel de genocídio devido às ofensivas militares em Gaza que mataram dezenas de milhares de palestinos e causaram uma crise humanitária. Tel Aviv nega, dizendo que agiu em legítima defesa após o ataque feito em 7 de outubro de 2023 pelo grupo terrorista Hamas.
noticia por : UOL