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segunda-feira, janeiro 27, 2025

Crise dos deportados: vidas a serviço da narrativa petista

Vamos aos fatos: um avião com brasileiros deportados dos Estados Unidos teve de fazer um pouso em Manaus. Constatou-se que os brasileiros estavam algemados e acorrentados. O ministro Ricardo Lewandowski, que está pouco se lixando para os presos do 8//1, ficou hipocritamente indignado.

Não foi o primeiro voo do tipo. Longe disso! Desde 2023, 32 voos pousaram no Brasil trazendo cidadãos que tentavam a vida no país agora governado por Donald Trump, o Malvadão.

Justiça Seletiva

Ao que consta, as algemas e as correntes que tanta indignação causaram ao ministro da Justiça Seletiva são uma praxe. Afinal, estamos falando de pessoas muitas vezes desesperadas. Mas, nas mãos dos fabricantes de narrativa do PT, agora sob o comando de um tal Sidônio Palmeira, essas pessoas viraram símbolo da opressão trumpista.

Pelo menos isso é o que parecia constar do briefing reproduzido à exaustão por um imprensa que há tempos mandou às favas os escrúpulos de consciência.

Vida x narrativas

E aqui temos mais um exemplo da imprensa que se ocupa de narrativas que interessam ao governo (ou à oposição) e se esquece daquela que deveria ser sua matéria-prima: a vida. Uma imprensa que, infelizmente, faz jornalismo para um público igualmente interessado em narrativas e que ignora seu semelhante, considerado aliado ou inimigo de acordo com as conveniências.

Não por acaso, nessa história dos deportados os colegas ignoraram as particularidades dos indivíduos expulsos dos EUA, tratando-os todos como uma coisa só: ou criminosos ou vítimas da política anti-imigração do novo governo americano. E aqui sou obrigado a mencionar um detalhe convenientemente ignorado por quem quer tirar proveito político da situação: o processo de deportação desses brasileiros não começou no dia 20 de janeiro de 2025, depois que Trump tomou posse.

Dramas

Quero, porém, voltar à parte em que falo que os indivíduos deportados e que aqui chegaram algemados e acorrentados, uma centena deles, têm histórias. Algumas provavelmente trágicas, outras marcadas pela malandragem & esperteza. Se há alguma história de crime não sei e não quero apontar o dedo, mas não é improvável. E onde é que estão os jornalistas para revelar os dramas por trás dessas vidas todas?

Entre os deportados, talvez haja criminosos. Ou aventureiros. Ou gente perdida e que acreditou no american dream. Mais: deve ter alguém que foi obrigado a abandonar um amor ou um projeto em solo americano. História de amor e sonho que podem não ter serventia alguma para a narrativa do ministro Ricardo Lewandowski ou dos trumpistas tupiniquins que pronunciam o th com som de f.

Sonhos, delírios, sacrifícios, lágrimas

Mas que são histórias de vida, poxa! São ou foram sonhos, delírios, sacrifícios e, pode apostar, muita lágrima. E que deveriam despertar o interesse dos poucos jornalistas que ainda sabem que sua matéria-prima não é o release do governo nem a nota fria da chancelaria, e sim o ser humano em toda a sua complexidade e incoerência.

Outra omissão importante por parte da imprensa, omissão essa que atende aos interesses do governo petista, mas que ignora o público e o espírito da profissão: já parou para se perguntar o que levou os deportados a se aventurarem ilegalmente nos Estados Unidos? Alguns tiveram de enfrentar a travessia pelo México, com todos os perigos que ela representa. Terá sido ambição? Desilusão amorosa? Talvez uma incapacidade de se adaptar ao infame jeitinho brasileiro… Ou medo de continuar vivendo em meio à violência que, bom, nem preciso explicar, né?

Desespero que um dia foi esperança

Por que nós, jornalistas, e vocês, leitores, não estamos interessados nos pormenores desse desespero que um dia foi esperança? E que pode, no futuro, vir a afetar alguém próximo e que não queira viver sob uma regime autoritário nem passar necessidades materiais como nossos vizinhos venezuelanos. Por quê?!

Pergunto e eu mesmo respondo: porque tudo é publicidade. Todos os gestos e palavras. Repare: as histórias só despertam o interesse dos jornalistas e do público se puderem ser usadas como argumento emocional pela esquerda ou pela direita. Se o deportado é bolsonarista, bem-feito! Agora, se ele teve de ir embora do Brasil por causa da crise causada pelo desastre Dilma, veja bem, foi gópi, etc.

Olhar infelizmente nublado pelas ideologias

E assim seguimos compartimentalizando as histórias pessoais de acordo com interesses partidários mais mesquinhos. E, por consequência, agindo assim acabamos nos desinteressando pela vida. Pelo ser humano que é nosso semelhante. Tudo para nos submetermos ao ritual macabro de adaptarmos a realidade à circunstância narrativa mais agradável ao nosso olhar infelizmente nublado pelas ideologias.

noticia por : Gazeta do Povo

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