A eleição de Samir Xaud à presidência da CBF deixou um vácuo de poder na Federação Roraimense de Futebol (FRF), entidade que permitiu ao médico ser escolhido para o principal cargo da cartolagem nacional.
Isso porque o presidente da FRF é José Gama Xaud, o Zeca Xaud, pai de Samir, que tem mandato até o final de 2026. Segundo apurou a Folha, Zeca, de 80 anos, apresenta limitações cognitivas que não lhe permitem cumprir a função.
Desde 2023, Samir tocava a federação no lugar do pai. Em janeiro deste ano, foi eleito para presidi-la, mas somente a partir de 2027, ao término do atual mandato de Zeca. A primeira vice-presidente eleita na chapa de Samir foi Adelaide Marcolino Peixoto de Oliveira, dirigente do River.
Indígena da etnia macuxi, dona Adelaide, como é conhecida, tem 85 anos. Segundo dirigentes ouvidos pela reportagem, a escolha dela como vice era mais simbólica, uma espécie de homenagem. Com a ida repentina de Samir Xaud para a CBF, os clubes roraimenses estão numa encruzilhada.
“A gente escolheu dona Adelaide por ela estar no futebol há muito tempo, mas sem saber que Samir ia ser presidente da CBF. Calhou de isso acontecer e ela poder assumir. Só que, pelo que a gente vê, a idade, o fator físico, dona Adelaide não tem condições de assumir uma federação”, diz Sérgio Caranguejo, presidente do São Raimundo, maior campeão estadual, com 12 títulos.
“Será que vai ter alguém manobrando ela? Eu não sei. Então acho que deveria ter uma nova eleição, para escolhermos um presidente que tenha condição de trabalhar por todos os clubes”, acrescentou o dirigente do São Raimundo.
Jander Cavalcante, presidente do GAS (Grêmio Atlético Sampaio), atual bicampeão roraimense, também defende que seja convocada nova eleição.
Adelaide tampouco tem informações sobre a situação. Indagada pela reportagem se assumiria a federação, respondeu: “É, vamos ver, né? Até hoje ninguém sabe ainda”. Desligou em seguida o telefone, alegando que estava no hospital acompanhando uma filha.
Mais antigo cartola do futebol brasileiro –está há mais de 40 anos no comando da FRF–, Zeca Xaud não votou no filho à presidência da CBF na eleição de domingo. Poderia até ter votado remotamente, mas, segundo a CBF informou à reportagem, foi Samir o representante da FRF na votação –ou seja, votou nele próprio.
A reportagem tentou entrevistar Zeca pessoalmente em Boa Vista, na sede da FRF. Ele não estava, e consta que pouco aparece. Quem toca o dia a dia da federação é o diretor Darkson Leal, que também não estava –viajara ao Rio para a eleição de Samir.
Procurado para auxiliar uma entrevista com Zeca, Darkson orientou o repórter a enviar questões por escrito –que foram enviadas, mas não tiveram resposta.
Sérgio Caranguejo, do São Raimundo, espera que Xaud filho ajude a solucionar o problema criado com a sua saída repentina. “Se os clubes daqui não tivessem eleito o Samir para presidente da federação, talvez ele não tivesse essa oportunidade de hoje estar hoje como presidente da CBF”, afirma.
“A gente glorifica Deus porque o Samir foi escolhido, ele está lá, foi um negócio muito rápido, talvez ele nem pensasse em ser presidente da CBF, é uma coisa que veio de repente, mas nós temos que nos reunir pra ver como é que vai ficar essa situação da federação.”
noticia por : UOL