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quarta-feira, janeiro 1, 2025

A incompetência salvou o Brasil

Com o inquérito caminhando para o desfecho, já podemos incluir o 8 de janeiro no rol de golpes bumerangues históricos, cuja incompetência se virou contra os seus agentes. Foi um espetáculo de trapalhadas, digno das investigações de Maxwell Smart, o Agente 86, que, apesar da sua esperteza duvidosa, desvendaria com facilidade o plano secreto, livrando o país do Kaos.

Não foi por falta de planejamento. Os envolvidos capricharam nas preliminares e tentaram fazer tudo direitinho para seduzir os mais vulneráveis: esquentaram os canais difamando as urnas eletrônicas antes mesmo de saberem o resultado das eleições para, “just in case”, irem direto ao ponto G … do golpe. Aconteceu que o “case” se apresentou e o plano foi levado adiante.

Os manifestantes estavam tão empolgados com o sucesso da empreitada, que não tiveram sequer a ideia de usar o Cone do Silêncio, aquele usado das conversas do Agente 86 com o chefe no QG do Controle, para garantir sigilo enquanto tramavam o golpe. Foram tão habilidosos na incompetência, que tiveram a proeza de, simultaneamente, cometer o crime e se delatar em um só ato. Com selfies e vídeos celebraram heroicamente a vitória: “Tomamos o Senado!”. Daí pra frente, uma sucessão de barbeiragens foi se acumulando.

A luta pela não democracia era “democrática”, tinha todo tipo de gente, de todas as origens e idades. Vovôs deixaram de brincar com os netinhos para brincar de pega-pega e de super-heróis em Brasília. Com tanta imaginação, não faltaram bandeiras de outros movimentos e fantasias de personagens históricos. Até “falsos indígenas” vestindo cocares apareceram por lá.

Os golpistas foram tão patriotas, que fizeram questão de, depois de depredar patrimônio público, deixar rastros mais concretos para facilitar as investigações, esquecendo seus celulares que tinham largado no prédio do Senado.

Convencidos de que a invasão significaria automaticamente a destituição do presidente eleito, e com total falta noção da sua estratégia, se perguntavam (vídeos gravados): “Mas e agora, o que a gente faz? A gente tem que esperar o presidente sair ou vamos fazer alguma coisa mais?”.

Se Maxwell Smart estivesse lá, teria sido mais contundente: “O prédio do Senado está cercado de milhares de agentes fortemente armados e que já dominamos o presidente eleito e o seu vice”. Desacreditado, faria outra tentativa: “Acreditariam se disséssemos que somos mil e tantas pessoas que quebramos algumas vidraças e dominamos o chefe do almoxarifado? Não? Que tal uma centena de lunáticos ameaçando com arminhas de gel os siriris que sobrevoam as lâmpadas do palácio?”.

Voltemos para a nossa ficção. Cansados de tanto lutar pela nação, os rebeldes que foram tirar um cochilo nas barracas em que acampavam, tiveram o mesmo pesadelo: acordaram cercados por forças de segurança.

Quando, enfim, perceberam que a casa caiu, não sabiam para onde correr. O tiro de misericórdia foi dado: invadiram supermercados e saquearam garrafas de uísque, cervejas e até pacotes de carne congelada.

Mas nem tudo estava perdido, a salvação estaria chegando – a galope -, pensavam. Mantinham a fé que o Exército e as Forças Armadas estariam lá para protegê-los. Quando se viram desamparados, gritaram indignados: “Cadê o Exército?!”.

A resposta que receberam foi o eco da própria incompetência.

Feliz 2025!


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noticia por : UOL

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