quarta-feira, 18, junho , 2025 02:38

Em sobrado na zona leste, casal fabrica mais de uma tonelada de biscoito de polvilho por semana

Três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras, as batidas na porta do casal Ronaldo Silva Carvalho e Eliana Coutinho, 44, são constantes. É o momento em que o cheiro do biscoito de polvilho se espalha pela Favela Haiti, na Vila Independência, zona leste de São Paulo. Os moradores da comunidade fazem fila para comprar.

Cinco anos atrás, no meio da pandemia da Covid-19, Ronaldo resolveu usar uma receita familiar, popular no sudoeste da Bahia, para assar biscoitos e distribuir a amigos e vizinhos. Jamais havia cozinhado na vida. Apenas se lembrava de ajudar a mãe na infância.

“Foi uma ideia só para eu não ficar parado, sem fazer nada. Não consigo ficar quieto”, diz ele.

Hoje em dia, os sacos de 25 kg de farinha ficam empilhados no andar térreo do sobrado onde moram. Estão ao lado de fornos industriais e máquinas de bater massa. Com a marca RS Biscoitos, o casal produz 1,1 tonelada de biscoitos de polvilho por semana. São 8.000 pacotes.

“Se você vier aqui no sábado, um dia depois da nossa produção final da semana, não vai achar nada. Nenhum pacote”, completa, orgulhoso.

Eles contrataram sete moradoras da comunidade para ajudar a empacotar o produto. Ronaldo ainda faz entregas, mas apenas para os clientes dos primeiros meses. Dois outros enchem as duas vans compradas pela empresa para levar a todas as regiões da capital, ao litoral e a algumas cidades do interior do estado.

O proprietário não sabe dizer em quantos estabelecimentos o RS Biscoitos está presente. Cada vendedor externo repassa para outros estabelecimentos. O preço cobrado costuma girar em torno de R$ 7 por unidade. Isso significaria uma arrecadação final de R$ 56 mil por semana e R$ 224 mil a cada mês. São números que ainda o assustam.

“É barato porque você precisa também calcular o valor do seu trabalho. Sei que há estabelecimentos que vendem por R$ 10 e não sobra. Se clientes compram, quem sou para dizer que não vale? Talvez se as pessoas soubessem a história que está por trás daquele pacote de polvilho, pagariam até mais.”

Eles se mudaram para a Favela Haiti, atendida por programa social desenvolvida pela ONG Gerando Falcões, em 2019. Ronaldo havia ficado desempregado do restaurante em que trabalhava ao lado de Eliana, em Alphaville, Barueri, na Grande São Paulo. Venderam tudo o que tinham em Carapicuíba, na Grande São Paulo, compraram um terreno na comunidade e começaram a construir a casa em que moram hoje, também fábrica da RS Biscoitos.

Agora ocupam apenas o andar superior. O térreo foi adaptado para a fábrica.

Ele começou a trabalhar como motorista de aplicativo até que, em março de 2020, surgiu a pandemia. Eles cresceram junto com a Favela Haiti, hoje considerada modelo por ter atingido o pleno emprego e ser gerida por lideranças locais.

“Quando começaram a aparecer pedidos, falei para o Ronaldo: isso é fogo de palha. A demanda cresceu muito e muito rapidamente. A gente no início oferecia apenas para as pessoas da nossa região na Bahia que conheciam a receita e gostavam. Era nosso público-alvo. Mas isso logo mudou”, lembra Eliana.

Eles achavam que venderiam biscoitos de polvilho por apelarem à nostalgia da comunidade do sudoeste baiano moradora de São Paulo. Mas existia muito mais gente interessada.

A única coisa que passa na cabeça de Ronaldo e Eliana agora é expandir. Aumentar a produção. Contratar mais funcionários, tanto na produção quanto na entrega. Fazer o RS Biscoitos chegar a mais cidades. E sair do endereço atual. O sobrado na Favela Haiti ficou pequeno.

O sonho para 2026 é abrir uma pequena fábrica no interior.

“Não sei o local ainda, mas será perto de São Paulo. A gente não pode ficar muito longe daqui, que foi onde tudo começou. A fabricação vai ser fora, mas o meu plano é a Favela Haiti continuar como uma espécie de centro de distribuição. Aqui é o centro de tudo”, afirma Ronaldo, emocionado.

“Eu nem acredito, sabe? Era só um hobby, uma receita que aprendi com a minha avó na Bahia. E está virando isso tudo…”

noticia por : UOL

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