sexta-feira, 6, junho , 2025 04:33

Berçário de cobra e choque na aranha: como veneno vira soro no Butantan

O escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) é considerado um aracnídeo e “participa” de dois soros produzidos pelo Butantan. Para recolher o veneno dele, um técnico segura o animal pelo rabo com uma pinça, o acomodando na mão nua. Com um movimento ágil, o polegar e o indicador substituem a pinça, imobilizando a cauda, dando um choque no rabo do animal para pingar o veneno em um frasco. Luvas não são necessárias na administração do escorpião, já que o ferrão pode furar o látex.

Para a aranha marrom (Loxosceles), o trabalho é mais delicado e precisa de duas pessoas. Enquanto um técnico segura as patinhas e dá um pequeno choque na região da cabeça (onde fica a glândula de veneno), outro, com uma seringa, puxa a gotinha que se forma. O processo com a aranha armadeira (Phoneutria) é semelhante, mas o cuidado com elas deve ser redobrado. Maiores, os animais também são mais ágeis.

Veneno das aranhas precisa ser congelado rapidamente. O material, principalmente o expelido pela marrom, é volátil e oferece risco aos técnicos se não for armazenado de forma correta. “O veneno é muito alergênico, então, se for inalado, pode causar coriza, deixar os olhos inchados. Por isso a gente coloca no gelo seco”, explica Thiago Mathias Chiariello, coordenador de produção do Instituto Butantan.

Com as cobras, o processo de extração do veneno é diferente. Um por um, os animais são retirados das suas caixas e colocados em um tanque com gás carbônico, que os deixa sonolentos. Após “apagarem”, eles são manejados por um tecnologista de laboratório, que expõe as presas e, com ajuda das mãos e de uma pinça, faz o veneno fluir para um becker. As cobras corais, que têm presas menores, ficam com pequenos frascos acoplados às presas delas para a retirada.

O manejo das cobras também precisa ser feito por ao menos duas pessoas. É importante que um dos técnicos segure a região da cauda e evitando que, caso o bicho acorde, vire o corpo em direção a quem está segurando a cabeça. Durante a nossa visita ao Butantan, acompanhamos a retirada do veneno de duas jararacuçus. Elas doam 12,5% do veneno que compõe o soro antibotrópico, um dos mais usados, já que acidentes com jararacas são 64% de todas as ocorrências com serpentes no Brasil.

O processo de extração do veneno é estressante para os animais, mas acontece raramente na rotina deles. Em média, o veneno das cobras, aranhas e escorpiões é retirado uma vez por mês. A reprodução deles é monitorada para que haja espécimes suficientes para extração constante.

noticia por : UOL

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

PUBLICIDADE

NOTÍCIAS

Leia mais notícias