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terça-feira, fevereiro 4, 2025

Carros dos anos 1990 viram sonhos de consumo, mas custo de manutenção precisa entrar na conta

Quando comprou sua VW Parati GTI 1999, Ernesto Kabashima planejava apenas dar uma revigorada na combalida perua para então revendê-la. Entretanto, após vencer uma prova do Rally Clássico (competição para carros antigos), mudou de ideia.

“Foi tão prazeroso que resolvi investir numa restauração e desisti de vender”, diz Kabashima, que é gerente de riscos de uma gestora de fundos de investimentos. Aos 48 anos de idade, ele compõe o grupo de colecionadores que hoje lidera o mercado mundial de automóveis clássicos.

Dados divulgados em dezembro pela seguradora Hagerty, especializada em veículos antigos, mostram que a Geração X, formada por pessoas nascidas entre 1965 e 1980, responde por 34% das cotações. Os “baby boomers” (nascidos entre 1946 e 1964) aparecem na segunda posição, com 33%.

O que esses colecionadores estão buscando são justamente exemplares dos anos 1990, conhecidos como neoclássicos.

“São carros do período em que tirei carteira de habilitação, mas não tinha condições de comprá-los. Então, se tiver oportunidade hoje, é uma forma de relembrar aquela fase”, explica Kabashima.

Organizador do Rally Clássico, Pedro Luiz Candido confirma que 50% dos inscritos fizeram parte da juventude da década de 1990, e que agora tem poder de compra.

“São colecionadores que, muitas vezes, curtiram esses carros quando eram dos seus pais, e agora querem reviver aqueles momentos. Além disso, são veículos que se assemelham aos que usamos atualmente”, diz Candido.

À frente da loja O Acervo, em São Paulo, Henrique Mendonça acrescenta que “para muitos, essa fase representa o ápice do design e do prazer em dirigir, com a conveniência de itens como injeção eletrônica, ar-condicionado e direção hidráulica, e de itens de segurança, como airbag e ABS”.

Nos seus cálculos, de 20% a 50% dos carros comercializados por ele vieram dos anos 1990. “Foi uma época de ouro para alguns modelos, como os últimos Porsches com motor refrigerado a ar. Entre as nacionais, foi o momento de compensar o atraso tecnológico, e mesmo os projetos defasados para a época passam a ter um certo charme”, diz Mendonça.

A onda dos veículos dos anos 1990 deságua nas oficinas. É o caso da Motorfast, instalada no Brooklin Novo, zona sul de São Paulo. “Hoje, esses modelos representam de 20% a 25% dos carros que passam por aqui no mês, e 70% são importados”, calcula o dono, Bruno Tinoco.

Ele diz que o boom ocorreu durante a pandemia de Covid-19, quando muitos resolveram realizar seus sonhos de consumo.

Suspensa desde 1976, a entrada de carros estrangeiros foi reaberta em maio de 1990. “Até então, não tínhamos contato com a tecnologia de um carro europeu, japonês ou americano, por exemplo. O XM e o Xantia, da Citroën, chegaram com suspensão hidropneumática, enquanto o Renault Safrane falava com o motorista em diferentes línguas”, diz Tinoco.

Reside aí o critério talvez mais importante de escolha na hora de estacionar um neoclássico na garagem: ficar em um nacional ou partir para um importado?

Principais condutores da transição automotiva do analógico para o digital, os estrangeiros são mais sofisticados, mas não por isso mais problemáticos.

“Os importados dão menos trabalho, porque, com o número do chassi, se chega ao código da peça, que pode ser comprada em qualquer lugar do mundo. Os nacionais levam vantagem se for algo simples.

Porém, se for um esportivo como Kadett GSI ou Gol GTI, há peças específicas e, por isso, mais caras”, explica Tinoco.

Mas um entusiasta de importados não escapará dos custos elevados. Além da mão de obra especializada, e, portanto, mais custosa, é preciso contabilizar a conversão do euro e do dólar.

“Um cliente comprou uma peça que custou R$ 500, mas com frete e imposto, acabou gastando R$ 1.200. Estamos também com um Fiat Tipo, cuja conta ficará entre R$ 20 mil e R$ 30 mil”, afirma o dono da Motorfast.

Tinoco e Mendonça concordam que modelos da italiana Alfa Romeo exigem o dobro de cuidado, sobretudo com peças de mecânica e acabamento. Já os carros franceses exigem dedicação à procura de componentes, mas, quando encontrados, acabam custando menos.

A febre por modelos dessa época tem seus efeitos colaterais, como um VW Gol GTI 1994 com 31 mil quilômetros vendido em setembro por R$ 400 mil. Por esse preço, é possível comprar, com troco, um sedã BMW 320i zero-quilômetro (R$ 346 mil).

“No último ano, passaram por aqui cerca de 100 modelos dos anos 1990. Uns dez foram Gol GTI”, explica Alex Fabiano, da GG World Premium Classic Cars.

“Outro carro que extrapolou de preço foi o Chevrolet Opala Diplomata. Vendemos um da versão Collectors [1992] com 30 mil quilômetros por R$ 550 mil”, diz Fabiano. “Mas são carros extremamente originais e conservados, não é qualquer exemplar que pode chegar a esse patamar.”

noticia por : UOL

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