Eduardo Bolsonaro não é exatamente uma figura das mais palatáveis da nossa política. Da direita. O sobrenome, por exemplo. É ao mesmo tempo um fardo e uma bênção (em termos políticos). Tem também uns casos meio estranhos. Quase caricatos. Aquela ideia de virar embaixador do Brasil nos Estados Unidos. A presença inoportuna na Copa do Catar. Os pen drives. A Bolso Store. E por aí vai.
Mas meu objetivo, aqui, não é falar mal do Eduardo Bolsonaro. Muito menos ressaltar os defeitos e contradições dele. Não é apontar o dedo nervoso. Afinal, também eu e você temos nossa parcela de defeitos e contradições. E vamoquevamo! Meu objetivo, aqui, não é nem mesmo questionar a estratégia do autoexílio nos EUA; é defender Eduardo Bolsonaro da perseguição mais-que-evidente de que ele é vítima.
Até o Zé Dirceu!
Você sabe que é perseguição. Eu sei. Cá entre nós, até a esquerda, toda a esquerda, sabe. Tenho certeza de que o Zé Dirceu, no conforto de seu lar, bota a cabeça no travesseiro à noite e pensa: “Caramba! O Eduardo Bolsonaro está sendo perseguido. Igual faziam com nóis na ditadura”. Lula sabe, Janja sabe. Moraes, Gonet, Kakay – todo esse povo sabe que o que está acontecendo é ilegal, é imoral e engorda.
Não se trata de expor nuances, de dizer “veja bem” nem de evocar conceitos tão ultrapassados que eu achava que ninguém mais usava, tipo “lesa-pátria”. Porque não há nuances nem o que enxergar melhor. Muito menos o que disfarçar com termos arcaicos. É perseguição pura, simples e direta. Sem eufemismos, por favor. Trata-se um homúnculo agindo como tal, isto é, usando o poder do Estado para perseguir, esmagar, destruir um desafeto político e pessoal.
“Canalha!”
E tudo por quê? Tudo por causa daquele dia. Aquele fatídico 7 de setembro de 2021, quando eu e você nos levantamos do sofá como se comemorássemos um gol quando o ex-presidente Jair Bolsonaro gritou algo como “Pede pra sair, Alexandre de Moraes, seu canalha!”. A multidão vibrou. Você vibrou? Eu vibrei. E a gente, por um instantezinho, achou que o poder de fato emanava do povo e que o sujeito não aguentaria a pressão.
Queria muito vir aqui hoje e dizer que o desfecho dessa história se restringiu à melancólica cartinha que o Temer teria ajudado a escrever. Mas não. Porque essa história não acabou e, sinceramente, não consigo imaginar como e se ela acabará um dia. Não vislumbro possibilidade de recuo por parte de Alexandre de Moraes. Uma trégua é impensável. E, por parte da direita, tampouco consigo imaginar uma estratégia com chance de sair vitoriosa.
2043
Só sei que Eduardo Bolsonaro, enquanto Alexandre de Moraes for ministro do STF, isto é, até 2043 (!), não poderá botar os pés no Brasil. Não sem uma reviravolta que, repito, por enquanto é inimaginável. Se ele fizer isso, será preso. Aí o Bolsonaro-pai pode colocar, sei lá!, 500 bilhões de pessoas nas ruas – e nada mudará. Isso vai cansando, vai frustrando. Vai fazendo com que percamos a perspectiva de um futuro minimamente livre.
Em todo caso, insisto: nesta hora me parece que temos que engolir quaisquer hesitações e deixar de lado quaisquer ojerizas e discordâncias em relação a Eduardo Bolsonaro para registrar nas paredes desta caverna digital o óbvio: ele (mas não só ele) está sendo perseguido e vai continuar sendo perseguido por ser de direita, por ser filho de quem é e por se recusar a baixar a cabeça para Alexandre de Moraes.
Questão de princípio
Ah, alguém pode querer dizer que Eduardo Bolsonaro está sofrendo com todo o conforto do mundo lá nos Estados Unidos. “Assim é fácil”. Por favor, não seja esse alguém intelectualmente desonesto, mesquinho, pequeno e invejoso. Porque não. Não há conforto que amenize totalmente a dor do desterro e principalmente da injustiça. Ora, se até monarcas já sofreram por isso…
O fato é que sim, se você se diz democrata e livre, verdadeiramente livre; se você se diz defensor dos oprimidos e perseguidos; se você acredita que todo ser humano é digno vai ter que deixar o personalismo de lado, ignorar o sobrenome e quaisquer outras características de que não gosta – e defender Eduardo Bolsonaro. É uma questão de princípio.
noticia por : Gazeta do Povo