quarta-feira, 28, maio , 2025 05:58

Receita de rocambole do inferno

Semana passada, um indignado Flávio Dino reclamou das ofensas que lhe são dirigidas pela Internet, aquela que os ministros do STF ainda chamam de World Wide Web. Tadinho. É por essas e outras que tem de regular, etc. Entre a amplas, abundantes e fartas ofensas, porém, chamou a atenção um tal de “rocambole do inferno”. Curioso que sou, fui pesquisar e descobri que:

História

O rocambole do inferno (l’enfer roule, na versão original) foi criado pela dupla de chefs franceses Castrô e Costá, logo depois da Revolução de 1789. A receita chegou ao Brasil, mais especificamente ao Maranhão, pelas mãos de jacobinos exilados, que apreciavam o alto poder revolucionário da gororoba que alimentou o Reino do Terror até Castrô e Costá serem acusados de praticar a arte pequeno-burguesa da gastronomia e acabarem guilhotinados numa fria e cinzenta tarde de inverno, já no finzinho de 1793.

Adaptado ao gosto local, ao longo do tempo o rocambole do inferno recebeu a adição de ingredientes cada vez mais autoritários – e apimentados. A tal ponto que, em 1952, ao provar a famosa e picante iguaria, o primeiro-ministro Winston Churchill, aquele, se saiu com uma de suas frases mais famosas: “What a wretched excuse for a democracy you possess. So degenerate that, in fifty years’ time, it shall be no more”. Que, em bom português, significa: “Vocês estão ferrados e vão ter que aguentar comunista no STF por um bom tempo ainda”.

Perfeito para ser servido em banquetes diplomáticos com ditadores, sessões do STF e reuniões do Partidão, o rocambole do inferno (não confundir com o rocambole dos infernos, versão à base de gordura hidrogenada) caiu no gosto de alguns brasileiros. Principalmente da casta que nos governa. Por isso, e para você que quer sentir por um instante o gostinho de agir como ditador, mas falar como democrata e até humanista, a Gazeta do Povo publica hoje esta receita exclusiva de rocambole do inferno, criada pelo renomado chef Paul Polzeau.

Ingredientes

– 1 quilo de chocolate amargo como a alma de ministro do STF
– 300 gramas de cuxá (não confundir com xacu)
– 4 ovos confiscados pelo Estado
– 2 colheres de sopa de fake news (opcional, mas provavelmente obrigatório)
– 1 pitada de liberdade de expressão artificial— só para disfarçar o gosto do autoritarismo
– Açúcar. Muito açúcar. Mais açúcar. (Quase lá. Só mais um pouquinho)
– 500 gramas de narrativa de golpe de Estado.
– a mesma quantidade da narrativa de que a democracia está em risco, oh! oh! oh! socorro!
– 1 colher de chá de fermento ideológico (preferência: gramsciano)
– creme de obesidade mórbida enriquecido com censura
– democracia relativa (para untar)

Modo de preparo

Pré-aqueça o debate político a níveis insuportáveis. Crie narrativas, minta, corrompa, aparelhe as instituições – faça o diabo para tomar o poder e se manter nele até que o Senado fique morrendo de medo de cumprir seu papel de fiscal do Judiciário.

Numa tigela grande, vá misturando tudo e mais um pouco, sem muita preocupação com o futuro. Acrescente um pensamentozinho importado da esquerda norte-americana aqui, outra teoriazinha francesa dali. E mexe, mexe, mexe. Mexa até não poder mais, ao som de Margareth Menezes.

Noutro recipiente, bata os ovos com a liberdade de expressão artificial. A mistura deve ficar homogênea como o discurso da “democracia em risco”. Mas cuidado para não passar do ponto e acabar proibindo memes com o Haddad e dizendo coisas como “criticar políticas públicas é crime”.

(Ponha um sapo numa panela com água fria e vá aumentando o fogo aos poucos. Não tem nada a ver com a receita. É só para você ver o que acontece mesmo).

Incorpore os ingredientes secos aos líquidos com cuidado, para não despertar suspeitas. A esta altura, a massa deve parecer sólida na superfície, mantendo a consistência moral gelatinosa por baixo.

Despeje a massa sobre uma forma forrada com papel de inquérito sigiloso e untada com democracia relativa. Leve ao forno e asse por décadas ou até que os Estados Unidos imponham sanções ou ainda até que o Senado desperte do coma e resolva agir.

Retire do forno e espere esfriar, se puder. Recheie com o amargor da desesperança e o creme de obesidade mórbida reforçado com censura. Salpique com cuxá, se é que com cuxá se salpica.

Enrole em silêncio. Cubra com lágrimas de conservadores, de preferência bolsonaristas. Sirva gelado como o coração de alguém capaz de condenar uma simples cabeleireira a 14 anos de prisão.

Dicas do chef

Ideal para servir com chantilly de hipocrisia, o rocambole do inferno harmoniza bem com vinho tinto — o mais vermelho possível — e discursos sobre fome feitos por quem nunca pulou uma refeição. Pelo contrário!

Siga-me para receitas de:

– Mousse das Trevas
– Pudim dos Quintos
– Tiramisú do Chifrudo
– Crème Brûlée do Coxo
– Banoffe do Capiroto
– Petit Gateau do Averno
– Panacota Dantesca
– Profiterole do Tinhoso
– Strudel de Belzebu
– Cheesecake de Coisa-Ruim

(colaborou, sem saber, Paulo Cursino)

noticia por : Gazeta do Povo

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