Hamdan Ballal e outro diretor do filme, Basel Adra, são os primeiros palestinos vencedores do Oscar. Hamdan Ballal no Oscar 2025 após vencer com o documentário ‘Sem chão’
Jordan Strauss/Invision/AP
O palestino Hamdan Ballal, um dos diretores do documentário vencedor do Oscar 2025 “Sem Chão”, foi linchado por colonos israelenses e detido por militares das Forças de Defesa de Israel que atuam na Cisjordânia, de acordo com o jornal israelense “Haaretz”.
Ele e outro codiretor do filme, Basel Adra, são os primeiros palestinos vencedores do Oscar. Adra testemunhou o ataque.
A agressão aconteceu nesta segunda-feira (24), perto do assentamento israelense de Susya. As Forças de Defesa de Israel disseram que estão investigando o caso, mas não deram outros detalhes.
Vídeo mostra momento de ataque contra vencedor do Oscar, diz jornalista
Ao jornal “Guardian”, Adra afirmou que militares acompanhavam os colonos e que utilizaram suas armas para ameaçar os moradores.
“Hamdan tentou proteger sua família e os colonos o atacaram. Soldados começaram a atirar para cima para impedir que alguém ajudasse Hamdan. Ele estava gritando por ajuda. Eles deixaram que os colonos o atacassem e então o exército o sequestrou”, disse o cineasta palestino.
Segundo o relato de Yuval Abraham, jornalista israelense que também dirigiu o documentário, após ser ferido por colonos, Ballal foi colocado em uma ambulância, mas retirado por militares israelenses enquanto recebia tratamento.
Quem é Hamdan Ballal
Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham mostram as estatuetas que venceram por ‘Sem chão’ no Oscar 2025
Jordan Strauss/Invision/AP
Um dos dois primeiro palestinos a vencer um Oscar, Ballal é um ativista dos Direitos Humanos, fotógrafo e fazendeiro da aldeia de Susya, na Cisjordânia, nascido em 1989.
Ao lado de Adra, e dos israelenses Rachel Szor e Abraham, realizou ao longo de cinco anos o documentário “Sem chão”, seu primeiro projeto cinematográfico. Nele, assina como um dos diretores, produtores, roteiristas e montadores.
O filme retrata a luta dos moradores de Masafer Yatta para impedir que o Exército israelense demolisse suas vilas.
“Estamos fazendo este filme juntos, como um coletivo palestino-israelense, porque queremos desesperadamente impedir a limpeza étnica em andamento liderada por Israel na comunidade de Masafer Yatta e porque queremos resistir à realidade do Apartheid em que nascemos – de lados opostos e desiguais”, afirmam os
Ele também faz parte do projeto Humans of Masafer Yatta, que documenta as demolições de colonos israelenses na região. Em seu último texto publicado no projeto, em janeiro, ele escreveu que “nossas cabeças estão sendo esmagadas enquanto o mundo finge que não vê”.
“O terrorismo de colonos e a violência contra palestinos em Masafer Yatta continuam a aumentar, e a falta de responsabilização ou ação legal dá a esses colonos extremistas maior poder e liberdade para atacar quem e o que quiserem.”
O ataque
Segundo a Associated Press, testemunhas afirmaram que um grupo de 10 a 20 colonos mascarados atacou Ballal e outros ativistas judeus com pedras e bastões, além de quebrar os vidros de seus carros e furar os pneus.
“Não sabemos onde Hamdan está porque ele foi levado vendado”, disse Josh Kimelman, um dos ativistas que estavam no local, à agência.
Dirigido por israelenses e palestinos, o documentário “Sem Chão” mostra a vida de palestinos da Cisjordânia que convivem com a violência de colonos e militares israelenses.
Retomada das tensões
Desde o início do ano, após a assinatura de uma trégua já encerrada entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, conflitos têm emergido na Cisjordânia.
As forças israelenses vêm conduzindo uma grande operação na Cisjordânia, alegando ter como alvo grupos terroristas e extremistas. Dezenas de milhares de palestinos foram forçados a deixar suas casas em campos de refugiados, enquanto residências e infraestrutura foram destruídas.
Pela primeira vez em mais de 20 anos, Israel mandou tanques de guerra para o território, na cidade de Jenin, no fim de janeiro.
Em fevereiro, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse que ordenou que seus militares se preparem para uma “estadia prolongada” em partes da Cisjordânia, enquanto intensifica “operações contra grupos terroristas e extremistas”.
Atualmente, existem mais de 140 assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que abrigam 450 mil israelenses. A presença deles é condenada pela comunidade internacional.
Apesar de ser considerado um território palestino, Israel detém o controle militar da Cisjordânia. Palestinos que habitam o território estão sujeitos à lei militar israelense. Isso quer dizer que palestinos residentes na Cisjordânia podem ser julgados por tribunais militares de Israel.
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O documentário
Centenas de palestinos abandonam a Cisjordânia
Além do Oscar, “Sem chão” já venceu vários prêmios internacionais desde sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2024. No entanto, o documentário também gerou polêmica em Israel e no exterior.
O filme mostra a expulsão de palestinos e a invasão ilegal de colonos israelenses de Masafer Yatta, na Cisjordânia.
O Exército israelense designou a região como uma zona de treinamento militar de fogo real nos anos 1980 e ordenou a expulsão dos moradores, majoritariamente árabes beduínos.
Cerca de mil habitantes ainda permanecem na área, mas os soldados frequentemente entram na região para demolir casas, tendas, reservatórios de água e plantações de oliveiras. Os palestinos temem que uma expulsão total possa acontecer a qualquer momento.
Israel já construiu mais de 100 assentamentos na Cisjordânia, onde vivem atualmente mais de 500.000 colonos israelenses. Enquanto isso, 3 milhões de palestinos que estão região vivem sob ocupação militar israelense, com a Autoridade Palestina — apoiada pelo Ocidente — administra alguns centros populacionais.
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Fonte: G1
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