O candidato derrotado na eleição suplementar de 2020 em Mato Grosso ao Senado, Nilson Leitão (PSDB), relatou um suposto esquema de “compra” de apoio político, além de ajuda financeira, em favor do senador Carlos Fávaro (PSD), que venceu o pleito do ano passado. Segundo Leitão, o empresário do ramo do agronegócio, Eraí Maggi, o deputado estadual, “Nininho” (PSD), o ex-vereador de Cuiabá, Toninho de Souza (PSDB), o vereador Juca do Guaraná (MDB) e o suplente a deputado estadual Romoaldo Júnior (MDB), fariam parte do esquema.
Em relação ao senador Carlos Fávaro, os indícios foram apurados num inquérito da Polícia Federal (PF), e que, ao ser analisado pelo Ministério Público do Estado (MPMT), foi arquivado por falta de provas. Já sobre Eraí Maggi, Nininho, Romoaldo Júnior e Toninho do Souza, o Procurador Regional Eleitoral, Erich Raphael Masson, determinou a instauração de uma notícia de fato (investigação preliminar) para apurar o caso no dia 29 de outubro de 2020.
“De acordo com o que foi relatado pelo candidato, se tem uso de influência política e econômica (destinação de recursos, obras etc.) sobre prefeitos do interior em troca de apoio ao candidato do Senado Carlos Henrique Baqueta Fávaro. Inclusive, alguns desses prefeitos já haviam declarado apoio ao Nilson Leitão e mudaram de lado depois disso”, diz trecho do despacho do procurador regional eleitoral Erich Raphael Masson.
Nilson Leitão também relatou o suposto repasse de R$ 200 mil ao ex-vereador de Cuiabá, Toninho de Souza, que buscava a reeleição no ano passado. Os recursos teriam sido pagos por Nininho e por Eraí Maggi para que Toninho também promovesse o nome de Carlos Fávaro durante a campanha eleitoral.
A mesma negociata também teria sido feita com o presidente da Câmara de Cuiabá, Juca do Guarná. “O deputado Ondanir Bortolini, o Nininho, e Eraí Maggi têm financiado campanhas, com muito dinheiro, e auxiliado na compra de apoio. Que o vereador Toninho de Souza de Cuiabá foi comprado por R$ 200 mil para que toda sua estrutura trabalhe a favor de Carlos Fávaro. Que o mesmo teria ocorrido com Juca do Guaraná, candidato a vereador em Cuiabá”, relata outro trecho do despacho.
Por fim, o candidato derrotado ao Senado narrou ainda que Nininho seria o responsável por uma espécie de “lavajatinho” – em alusão à operação “Lava Jato”, que envolvia um suposto esquema de pagamentos de propinas por empreiteiras que prestavam serviços ao Governo Federal. “O deputado Nininho é responsável por uma “lavajatinho” no Estado de Mato Grosso, aproveitando-se de sua influência política para conseguir obras para as suas empreiteiras”, contou ele.
Vale lembrar que a notícia de fato, instaurada pelo procurador regional eleitoral, é uma etapa embrionária de uma investigação. Caso os indícios iniciais de irregularidades sejam confirmados, o Ministério Público Eleitoral (MPE) poderá ajuizar uma ação de investigação judicial eleitoral (AIJE). Os fatos narrados por Nilson Leitão fizeram com que a Polícia Federal abrisse um inquérito para apurar o caso.
DENÚNCIA SEM PROVAS
Segundo os relatos, o senador Carlos Fávaro, juntamente com Romoaldo Júnior, teriam arquitetado um suposto repasse de recursos a vereadores aliados. Os pagamentos seriam realizados em Alta Floresta (800 KM de Cuiabá), base eleitoral de Júnior.
Os recursos seriam repassados aos vereadores com a promessa de que “puxariam voto” para Carlos Fávaro. O suposto encontro ocorreria em 31 de outubro de 2020 entre Romoaldo Júnior e seus aliados políticos.
Os advogados de Nilson Leitão teriam repassado áudios à Procuradoria Regional Eleitoral entre dois candidatos a vereador – Klayton Melz Alves Arruda (DEM), de Nortelândia (230 KM de Cuiabá), que questiona o local e data da suposta reunião, e Luiz Carlos de Queiroz (MDB), então candidato à reeleição no cargo de vereador em Alta Floresta, que teria informado os detalhes do encontro.Com base nas informações, policiais federais se deslocaram até Alta Floresta no dia 31 de outubro de 2020 e ficaram atentos às reuniões político/partidárias que ocorreriam no município naquela data.
Posteriormente, no entanto, os agentes federais receberam a informação de que Carlos Fávaro e Romoaldo Júnior encontravam-se em Paranaíta (839 KM de Cuiabá), e que seguiriam para Carlinda (759 KM da Capital). A Polícia Federal chegou a realizar diligências em hotéis na procura dos candidatos, sem sucesso.
Outra informação, de que ambos estariam numa comunidade em Carlinda, fez com que parte dos policiais se deslocassem até o município, e que o suposto encontro seria realizado numa residência atribuída a Romoaldo Júnior. Os agentes fizeram uma “campana” nos endereços do suplente a deputado estadual, porém, a reunião não foi concretizada, o que levou o Ministério Público a promover o arquivamento do inquérito. “Em que pesem as suspeitas sobre a suposta distribuição de recursos em troca de apoio do candidato ao Senado Carlos Fávaro, a despeito das diligências supramencionadas, não foi possível comprovar a ocorrência de tal fato”.
FONTE: FOLHAMAX