Agência Internacional de Energia Atômica censura o país por não cumprimento de acordo nuclear, o que pode abrir caminho para sanções. Governo iraniano anuncia nova instalação de refino de urânio. Israel parece pronto para atacar o Irã
O Irã afirmou nesta quinta-feira (12) que construiu e irá ativar uma terceira instalação de enriquecimento nuclear, aumentando significativamente sua produção de urânio enriquecido e desafiando exigências dos EUA e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
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O anúncio acontece logo após a agência da ONU censurar o país por não cumprir obrigações de não proliferação destinadas a impedir o desenvolvimento de armas nucleares em todo o mundo, e em meio a um temor de um ataque israelense em território iraniano.
“A República Islâmica do Irã não tem outra escolha senão responder a essa resolução política”, disseram o Ministério das Relações Exteriores e a Organização de Energia Atômica do Irã em um comunicado conjunto.
A medida da AIEA pode dar início a esforços para restaurar sanções contra o país ainda este ano via Conselho de Segurança da ONU. Esta é a primeira censura em 20 anos emitida pela ONU contra o Irã sobre o não cumprimento do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) – um acordo amplo referendado por 191 países.
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Resolução de censura
País já possui duas plantas de enriquecimento de urânio e centros de tecnologia nuclear
Planet Labs PBC/AP/picture alliance
Dezenove países do conselho de governadores da agência votaram a favor da resolução de censura, segundo diplomatas que falaram sob condição de anonimato, já que a votação foi realizada a portas fechadas.
A resolução foi apresentada por França, Reino Unido, Alemanha e EUA. Rússia, China e Burkina Faso votaram contra, enquanto 11 países se abstiveram e dois não votaram.
O texto exige que o Irã forneça respostas “sem demora” sobre traços de urânio encontrados em diversos locais que Teerã não declarou como instalações nucleares, segundo um rascunho visto pela agência de notícias AP.
Um dos locais foi revelado publicamente em 2018 pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu na ONU, que o descreveu como um armazém nuclear clandestino escondido em uma lavanderia de tapetes. O Irã negou, mas em 2019 os inspetores da AIEA detectaram traços de urânio ali e em outros dois locais.
Oficiais ocidentais suspeitam que é mais uma evidência de que o Irã mantém um programa nuclear secreto.
O rascunho da resolução da agência afirma que “as diversas falhas do Irã, desde 2019, em cumprir suas obrigações de fornecer plena e pontual cooperação em relação a material nuclear não declarado […] constituem descumprimento de suas obrigações.”
De acordo com essas obrigações, que fazem parte do TNP, o Irã é legalmente obrigado a declarar todo material e atividade nuclear que possui e permitir que inspetores da ONU verifiquem se as atividades têm fins pacíficos.
O Irã afirma que mantém seus compromissos sob o TNP. Contudo, abandonou um segundo pacto nuclear estabelecido em 2015 com potências ocidentais depois que os EUA fizeram o mesmo em 2018, durante o primeiro mandato do presidente americano Donald Trump.
Atualmente, o Irã enriquece urânio a 60%, muito acima do limite de 3,67% estabelecido no acordo de 2015 e próximo, embora ainda aquém, dos 90% necessários para uma ogiva nuclear.
Irã anuncia retaliação
Líder supremo do irã, o aiatolá Ali Khamenei, em reunião com equipe do presidente Masoud Pezeshkian, em Teerã, na terça (27)
Escritório do Líder Supremo do Irã/via AP
Falando à televisão estatal iraniana após a votação da ONU, o porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã disse que a entidade imediatamente informou a AIEA sobre as ações que Teerã pretende tomar.
“Uma delas é a ativação de um terceiro local seguro” para enriquecimento, disse o porta-voz Behrouz Kamalvandi.
Ele não especificou qual é este ponto, mas o chefe da organização, Mohammad Eslami, mais tarde o descreveu como “já construído, preparado e localizado em um lugar seguro e invulnerável”.
Outra medida seria a substituição de centrífugas antigas por modelos avançados em outra instalação de enriquecimento de urânio. “Nossa produção de material enriquecido aumentará significativamente”, afirmou Kamalvandi.
O Irã possui duas instalações nucleares subterrâneas, em Fordo e Natanz, e tem construído túneis nas montanhas próximas a Natanz desde que ataques de sabotagem atribuídos a Israel atingiram a instalação.
Irã dobrou enriquecimento de urânio
Donald Trump conversa com repórteres na Casa Branca após ameaças de ataque ao Irã
Carlos Barria/Reuters
Em maio, a ONU já havia afirmado que o país dobrou seu enriquecimento de urânio em apenas 3 meses como forma de obter vantagem nas negociações com os EUA por um novo acordo nuclear.
Nesta quinta-feira, Donald Trump alertou que Israel ou os Estados Unidos poderiam lançar ataques aéreos contra instalações nucleares iranianas se as negociações não resultarem no desarmamento nuclear do Irã.
A sexta rodada de conversas está marcada para começar no domingo (15), em Omã. Com o aumento de tensões, funcionários do governo americano considerados não essenciais foram orientados a deixar a região do Golfo.
Trump disse nesta quinta-feira que ainda espera que o Irã aceite as negociações, mas se disse preocupado com a possibilidade de um “conflito massivo” no Oriente Médio caso isso não ocorra.
“Não quero dizer que é iminente, mas parece algo que muito provavelmente pode acontecer”, disse Trump ao ser questionado por um repórter sobre um possível ataque israelense contra o Irã. “É muito simples, não é complicado. O Irã não pode ter uma arma nuclear.”
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Fonte: G1
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