Celulares afoitos fotografam as obras de Andy Warhol que se espalham pelo Museu de Arte Brasileira Faap. Os aparelhos reproduzem o legado do artista, conhecido por desafiar os limites entre a cópia e a originalidade e sobrepor as definições que separam a arte da mercadoria.
“Andy Warhol: Pop Art” —maior exposição dedicada ao americano já feita fora dos Estados Unidos, que entra em cartaz no MAB Faap em 1º de maio— se desdobra ao público após uma parede com variadas reproduções de vacas cor-de-rosa na entrada.
Os rostos que se repetem —sejam de cineastas como Clint Eastwood ou cantores como Aretha Franklin—, as borboletas desenhadas em seus anos de publicitário e sua notória releitura de “A Última Ceia” são exemplos célebres do que poderá ser visto até 30 de junho no espaço.
As peças unem diferentes fases da vida de Warhol, sem se preocupar com a cronologia, e reforçam a multiplicação como essência do artista, imortalizado como um dos maiores nomes da pop art.
Seu modo de repensar objetos e símbolos da cultura de massas não se restringiu às artes visuais. Há seções específicas sobre a história do Velvet Underground, banda de rock alternativa que viria a administrar, e de suas empreitadas no cinema e na televisão —caso do programa “Andy Warhol’s TV“, que surge em trechos em um aparelho antigo.
“Warhol sempre lidou muito bem com o ideal da indústria e da reprodução em série. É um conceito que está muito distante da cópia. Ele pode ter produzido dezenas de ‘Marilyns’ [Monroe] ou diversos Elvis [Presley], mas cada um deles é diferente do outro”, afirma Roberto Souza Leão, um dos realizadores da megamostra, em uma visitação antecipada para alunos e convidados.
Cofundador do Instituto Totex, responsável pela exposição, ele diz que o projeto surgiu da vontade de representar a totalidade do artista e unir seus trabalhos mais famosos às fases menos conhecidas de sua carreira.
No salão principal, retratos de personalidades da Sétima Arte, como do ator Sylvester Stallone e do diretor Alfred Hitchcock, dividem o corredor com grandes figuras do universo musical, caso dos quadros dedicados a Michael Jackson e a Ludwig van Beethoven.
Pelos traços e jogos cromáticos típicos do artista, pensadores como Albert Einstein e feitos como a chegada do homem à Lua também tomam as paredes. Também chamam a atenção a série de fotografias dedicadas ao cenário queer de Nova York e à história do “The Factory“, ateliê criado por Warhol e por onde passaram diversos experimentos e personalidades.
Entre pinturas conhecidas que questionam os limites entre a vida e a morte, caso das cadeiras elétricas de “Big Eletric Chair”, e o conjunto dedicado a personagens políticos como Mao Tse-tung, o espaço ainda se dedica a obras mais abstratas, caso de seu próprio teste de Rorschach e peças de “Oxidations”, série de obras que testou a reação da urina sobre telas revestidas de tinta metálica.
São evidências de uma produção prolífica e que rodeia a instalação “Silver Clouds”, em que pessoas interagem com balões de ar produzidos a partir de um tecido prateado e muito utilizado em bolsas.
No segundo salão, desenhos, pinturas e colagens da publicidade se unem à fotografia de um Elvis triplicado, a uma Marylin Monroe inscrita em tons de azul e amarelo vibrantes, um vestido com estampas de rótulos para produtos fragéis e retratos de uma Jackie Kennedy abalada pelo assassinato do marido.
No centro da sala, montes e mais montes de latões metálicos sustentam uma estrutura circular onde são apresentadas caixas de ketchup Heinz, utensílios domésticos e as famosas latas de sopa Campbell’s — também presentes sob o pincel de Warhol em molduras enormes.
“O trabalho de Warhol sempre desafiou os elementos que costumam definir aquilo entendemos por obras de arte”, diz Leão. “Na exposição, o público poderá navegar livremente por tudo que ele já fez e questionar esses limites.”
noticia por : UOL