segunda-feira, 14, abril , 2025 11:54

Brancos separatistas da África do Sul querem apoio de Trump para conquistar independência

Um grupo de africâneres brancos se opôs de tal forma ao governo da maioria negra quando o apartheid acabou, há cerca de três décadas, que criou um enclave separatista — Orania, a única cidade na África do Sul onde todos os moradores, incluindo os trabalhadores braçais, são brancos. Agora, seus residentes — uma população de 3.000 pessoas —, na região semiárida do Karoo, desejam que o presidente dos EUA, Donald Trump, os ajude a se tornar um Estado independente.

Na semana passada, líderes da comunidade de Orania visitaram os Estados Unidos em busca de reconhecimento como uma entidade autônoma. As autoridades sul-africanas reconhecem Orania como uma cidade com direito a arrecadar impostos locais e fornecer serviços.

“Queríamos obter reconhecimento, com o foco americano na África do Sul neste momento”, disse Joost Strydom, líder do Movimento Orania, à Reuters, falando de uma colina repleta de estátuas de bronze de antigos líderes africâneres, incluindo figuras da era do regime racista da minoria branca, que foi encerrado por resistência interna e indignação internacional.

O assentamento de 8.000 hectares está surfando em uma onda sem precedentes de apoio de americanos de direita aos nacionalistas africâneres, que perderam irrevogavelmente o poder quando o apartheid terminou em 1994 e Nelson Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul.

Em Nova York e Washington, os líderes de Orania se encontraram com influenciadores, think tanks e políticos republicanos de baixo escalão .”Dissemos a eles que a África do Sul é um país tão diverso que não é uma boa ideia tentar administrá-lo de forma centralizada”, afirmou Strydom.

Três funcionários de alto escalão de Orania entrevistados pela Reuters foram imprecisos sobre o tipo de ajuda que buscavam nos EUA. Disseram que não estavam pedindo doações, mas queriam investimentos para construir casas para acompanhar o crescimento populacional de 15%, além de infraestrutura e independência energética —algo que já alcançaram quase pela metade com energia solar. Strydom se recusou a dizer se sua delegação teve contato com o governo Trump. O Departamento de Estado dos EUA não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da África do Sul, Chrispin Phiri, disse à Reuters: “Orania) não é um país. Eles estão sujeitos às leis da África do Sul e à nossa Constituição.” Outros grupos nacionalistas africâneres também visitaram os EUA para construir alianças com públicos predominantemente brancos e republicanos, o que levou a acusações em seu país de origem de que tais viagens inflamam tensões raciais.

Na semana passada, o partido esquerdista Economic Freedom Fighters (EFF) acusou os líderes de Orania de “destruir a unidade deste país”, uma acusação que eles rejeitam.

‘O início de algo’

Os africâneres são descendentes de colonos holandeses que começaram a chegar à África do Sul no século 17. Eles resistiram ao Império Britânico, mas, quando assumiram o controle do país, endureceram a segregação racial por meio de leis discriminatórias. “Havia 17.000 leis só sobre a terra”, disse o porta-voz Phiri. “Tivemos que reconstruir a África do Sul em um país que representasse todos os seus habitantes.”

Em 1991, quando o fim do apartheid se aproximava, um grupo de cerca de 300 africâneres adquiriu Orania —anteriormente um projeto hídrico abandonado às margens do rio Orange— para criar um lar exclusivamente para africâneres brancos. “É o início de algo”, disse Carel Boshoff, ex-líder do Movimento Orania, comparando o desejo de independência de sua comunidade —que até usa uma moeda informal própria— ao de Israel, fundado após a Segunda Guerra Mundial, apesar da forte resistência dos árabes que viviam naquela região.

Boshoff, cujo pai fundou a cidade e cujo avô, Hendrik Verwoerd, é amplamente considerado o arquiteto do apartheid, sonha com um território que se estenda até a costa oeste, a quase 1.600 km de distância. As atividades de Orania são financiadas por impostos locais e doações de apoiadores e moradores.

Seus líderes ficaram desapontados ao descobrir que a única solução que interessava a alguém nos Estados Unidos era a concessão de residência americana, depois que Trump ofereceu, em fevereiro, reassentar fazendeiros brancos sul-africanos e suas famílias como refugiados. “Não podemos exportar nosso povo”, disse Boshoff à Reuters, ao lado de uma foto emoldurada de seu falecido avô. “Dissemos a eles ‘nos ajudem aqui’.”

Alguns direitistas americanos têm buscado se aliar aos africâneres em sua oposição às políticas de diversidade que visam empoderar grupos historicamente discriminados. As leis sul-africanas de empoderamento da população negra foram ridicularizadas pelo assessor de Trump, Elon Musk, que é nascido na África do Sul.

Essas leis foram o motivo pelo qual Hanlie Pieters se mudou para Orania há oito meses, depois de viver 25 anos em Joanesburgo, para se tornar chefe de marketing da faculdade técnica da cidade. “Nossos filhos, que oportunidades eles terão?”, questionou Pieters, criticando cotas para trabalhadores negros, enquanto aprendizes de encanadores e eletricistas aprimoravam suas habilidades em um galpão próximo.

Um terço de todos os sul-africanos está desempregado, a maioria negros pobres. Um desses desempregados, Bongani Zitha, 49, disse achar que “as pessoas em Orania estão indo muito bem” em comparação com muitos sul-africanos. “Muita gente procurando oportunidades. É uma luta”, declarou. Zitha, que mora desde 1995 em uma favela de barracos de zinco em Soweto, sem água encanada ou esgoto, disse que, pelo menos, os moradores de Orania têm “direitos à saúde, à educação, a tudo”. E, ao contrário de si mesmo sob o regime da minoria branca, acrescentou, os moradores de Orania são livres para viver onde quiserem.

noticia por : UOL

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