Quem entra no Parque da Água Branca pela rua Dona Ana Pimentel tem a impressão de estar no pátio de manobras de uma construtora. O vaivém de carros e trabalhadores com capacetes é resultado das instalações da CasaCor e da Fazenda Churrascada, dois eventos levados pela Reserva Parques ao local. A empresa também é responsável por outras concessões de parques em São Paulo, como o Villa-Lobos e o Cândido Portinari, na zona oeste.
Mais do que os transtornos causados pelas obras, o que causa preocupação para os frequentadores do parque é a preservação do patrimônio ambiental, histórico e cultural da cidade.
Tombado em 1996 pelo Condephaat, órgão do patrimônio estadual, e em 2004 pelo Conpresp, órgão municipal, o parque tem diversos prédios históricos em seu interior, além de nascentes de água e flora nativa.
A concessionária e os responsáveis pelas instalações dizem que as mudanças são reversíveis e estão de acordo com as exigências de preservação do patrimônio.
O foco principal das críticas é o restaurante Fazenda Churrascada, que faz uma unidade provisória dentro de baías do parque. Regina Lima, do Conselho Consultivo do Água Branca, afirma que houve novas construções, mudanças no piso e nos jardins, além de retiradas de peças originais, como portas de madeira que foram substituídas por outras de aço.
O vereador Nabil Bonduki (PT), que é arquiteto e urbanista, enviou um ofício para a prefeitura em que pede vistorias para averiguar a regularidade das obras e, caso constatada a ausência de licença ou autorização, que a obra do restaurante seja embargada. Os documentos analisados pelo vereador apontam para o indeferimento da obra.
Com relação à CasaCor, ele pediu a análise conformidade com o projeto aprovado e com os elementos técnicos apresentados no projeto. O documento foi protocolado na última segunda-feira (5). O vereador também anunciou que vai entrar com uma ação no Ministério Público de São Paulo.
Para Regina, as instalações são parte de um projeto de descaracterização promovido pela concessionária. “O parque era conhecido pelos animais soltos, como as aves, gatos e macacos”, diz. O som das aves ainda é bem marcante para quem anda dentro do parque, onde a reportagem esteve na manhã desta terça (6), mas elas agora ficam confinadas em um viveiro.
“Eu trazia meu filho Caio, que hoje tem 23 anos, para brincar com as aves quando era criança”, diz. “Hoje, elas estão presas, e o restaurante constrói uma área de recreação dentro de um galpão igual àquelas dos shoppings”, completa.
A Arsesp, agência que regula dos serviços públicos do estado de São Paulo, anunciou, nesta terça, a suspensão imediata das obras para instalação e operação do restaurante. “Como a concessionária não apresentou as devidas autorizações, as obras permanecerão suspensas até a comprovação das permissões exigidas pelos órgãos competentes”, afirmou em nota.
Também em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), informou que acompanha o caso e que, se for constatado o “descumprimento das autorizações ou do contrato de concessão, serão tomadas as medidas cabíveis”.
Dono do restaurante, o Heat Group afirma que as estruturas são “temporárias, reversíveis e respeitam o valor histórico do local”. E que a implantação do projeto “segue rigorosamente todos os trâmites legais e técnicos exigidos pelos órgãos públicos”.
Segundo a empresa, a montagem foi iniciada em fevereiro, após parecer favorável do órgão municipal responsável pelo patrimônio histórico. “Desde então, a empresa tem atendido prontamente às solicitações de esclarecimentos, ajustes de procedimentos e complementações, frutos das diligências conduzidas pelas autoridades competentes, as quais foram acolhidas de maneira transparente e aberta.”
A CasaCor diz que seu evento e as respectivas obras foram aprovados pelo Condephaat e pelo Conpresp. Segundo a empresa, todo o trabalho está sendo conduzido “com o devido cuidado para garantir a preservação das características históricas dos imóveis e do meio ambiente tombado” e segue “o plano de manutenção aprovado pelos órgãos de patrimônio”.
Entre as contrapartidas apresentadas pelo evento estão “a manutenção de prédios históricos que estavam desativados, com obras como manutenção de telhados, instalação de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) e elevadores para acessibilidade”.
A Reserva Parques diz que os eventos questionados são temporários e com estruturas reversíveis. “Todas as intervenções seguem critérios técnicos, com atenção à preservação do patrimônio histórico”, afirma.
Quanto às aves, diz que elas “estão sob cuidados em espaços zootécnicos adequados, que garantem o bem-estar e a segurança dos animais e dos frequentadores”. “A alimentação e os cuidados médicos são realizados por uma equipe técnica especializada”, afirma.
Segundo a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), a autorização para o funcionamento temporário do restaurante “está sendo analisada pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) e, posteriormente, será encaminhada para deliberação do Conpresp”.
Com relação à Casa Cor, o pedido de reforma de duas edificações tombadas foi deferido parcialmente pelo Conpresp na reunião de 17 de fevereiro de 2025.
noticia por : UOL