É uma invenção europeia que vingou na Gotham City tropical e que agora comemora duas décadas de existência. A Virada Cultural de São Paulo, na edição que marca seu 20 anos de criação, não vai dobrar a aposta, mas também não pretende arredar o pé.
Um ano após uma virada que teve investimento recorde da prefeitura, a edição de 2025 manterá o mesmo valor que foi gasto em 2024, que foi o mais alto em relação aos dez anos anteriores.
Foram quase R$ 60 milhões investidos pelo Executivo municipal em 2024, o que representou um aumento de 30% em relação à edição do ano anterior, em 2023, quando foram gastos R$ 46 milhões.
Este ano, a prefeitura injetará R$ 54 milhões na Virada, sendo R$ 28 milhões em infraestrutura e R$ 26 milhões na contratação de artistas. Estão previstos também R$ 5 milhões em suplementação de orçamento, igualando ao orçamento da última edição do evento, no ano passado, de acordo com a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de São Paulo.
Ao longo de 20 anos, a Virada —que nos anos 2000 transformava a madrugada do centrão de São Paulo, enchendo-o de atrações artísticas e gente caminhando para lá e para cá— sofreu críticas de esvaziar a região central. A partir da gestão do ex-prefeito João Doria, deu-se início a um movimento de migrar grandes atrações para fora do centro da cidade. As críticas de esvaziamento, por sua vez, foram criticadas, sendo chamadas de elitistas.
É nessa berlinda que se vê agora a gestão do “radical de centro” Totó Parente, secretário da Cultura que tem o MDB tatuado na alma.
Por um lado, a prefeitura afirma que a prioridade atual é manter —e ampliar — os palcos na periferia, levar grandes cantores para longe de bairros ricos como Higienópolis e para perto da população mais pobre. Por outro, há o desafio de manter o centro vivo, entupido de coisas para o regozijo do povo nessas 24 horas.
Uma coisa não pode inviabilizar a outra, e a outra não pode ofuscar a uma.
Este ano, por exemplo, a cantora e influencer Luísa Sonza faz dobradinha em Campo Limpo, na Zona Sul, no sábado, e na Brasilândia, Zona Norte, no domingo. Xande de Pilares, que encantou moderninhos franjados e barbados do centro com suas versões de Caetano, vai cantar na Cidade Ademar, na Zona Sul.
Já no centro, há a promessa do que o prefeitura tem chamado de “retomada do passeio pelo centro”, com atrações em praças, ruas e palcos por toda a região, que incluem shows de stand-up, monólogos, inferninhos ao ar livre, bate-estaca e por aí vai.
Há quem torça o nariz para ausência de medalhões da MPB em edições recentes, incluindo a de 2024. Em viradas anteriores, porém, nomes como Caetano Veloso e Elza Soares se juntavam aos jovens em ascensão meteórica.
O evento de 2025 já sofreu o seu primeiro revés. Marina Lima —a nova queridinha dos millennials e dos gen-z, saudosos por aquilo que não viveram— cancelou o seu show. Após a prefeitura ter anunciado a participação da cantora na Virada, a equipe da artista disse à Folha que a apresentação não iria mais acontecer e que não havia sido fechado um contrato entre as partes.
As atrações acontecem no sábado (24) e no domingo (25), ao longo de 24 horas, em 21 grandes palcos distribuídos pela capital paulista, além de praças, centros culturais, casas de cultura, bibliotecas e teatros. A prefeitura estima um público de 4,7 milhões de pessoas.
A prefeitura diz acreditar que a virada pode gerar R$ 300 milhões de retorno para a economia paulistana.
A previsão é otimista em relação ao ano passado —a pasta estima que o festival tenha gerado R$ 100 milhões de impacto econômico para a cidade em 2024, quando foi feito o mesmo investimento nominal em relação ao atual.
De acordo com a São Paulo Turismo, 89,7% do público era composto por moradores da capital no ano passado. O gasto médio dos turistas foi de R$ 1.200, com permanência média de 3,2 dias na cidade.
A prefeitura afirma ainda ter aumentado em 25% a frota de ônibus no domingo. A partir da meia-noite de sábado para domingo, a passagem será gratuita. O metrô e a CPTM também vão operar durante a madrugada, sem gratuidade.
Este ano, a novidade é a Virada Literária 24 horas, na Biblioteca Mário de Andrade, com saraus, sessões de cinema, slams, recitais, além de mesas literárias com com nomes como Bruna Lombardi, Itamar Vieira Junior e Leandro Karnal, Antonio Prata e Xico Sá.
Para 2025, estão programados shows de nomes graúdos da música popular, como Iza, Liniker, João Gomes e Luísa Sonza. Não vai ter Marina, mas seguem na programação artistas do calibre de Alceu Valença, Wagner Tiso, Lenine e Mart’nália. Entre os que ganharam o mainstream há menos tempo, a programação traz nomes como MC Hariel, Djonga, Mc Cabelinho e Xamã.
Entre os campeões de preço estão João Gomes, que cobrou R$ 750 mil pela sua arte, e Luísa Sonza, que faz dois shows, ao custo de R$ 600 mil o pacote.
Enquanto o Sepultura leva sua turnê de despedida ao Butantã, no domingo, a Banda Uó leva seu show de reencontro ao mesmo palco e se apresenta com Gaby Amarantos. O local recebe ainda Fresno, Dead Fish e Duda Beat.
Estão na programação, também, Péricles, Olodum, Michel Teló, Léo Santana, Diogo Nogueira, Vanessa da Mata, Barões da Pisadinha, Negra Li, Rincon Sapiência, Tássia Reis, Ira! e Belo.
A edição também conta com a programação infantil, trazendo nomes atemporais como Patati & Patatá. Caso haja desmaios, o poder público disponibiliza 13 postos médicos nos palcos e espaços da Virada, além de 60 ambulâncias e UTIs móveis em operação.
noticia por : UOL