quinta-feira, 15, maio , 2025 06:35

Exclusivo! Lula apresenta seus amigos ditadores e criminosos de guerra

— E aí, Lula? Que rolê estranho esse aqui na Rússia, hein? — pergunto para o presidente. Ao lado do Chefe do Executivo, a primeira dama Janja se entretém com uma matriosca. Ela está com dificuldade de colocar uma bonequinha dentro da outra. Será que vou lá ajudar?

— Estranho por quê? — responde Lula. — Olha em volta, Popov! Tudo parente seu. E essa cultura rica? E esse povo todo loirinho de olho azul? E essa vodca que desce acariciando o peito?

— Tá certo. Mas, ó. Não tá pegando muito bem lá no Brasil essa coisa de o senhor…

— Me chame de você.

— De você arrastar asa pro Putin, pra ditadores e pra criminosos de guerra. E depois o senhor, ou melhor, você ainda vai pra China!

Gente corajosa

— Bobagem. Tudo maldade de vocês da imprensa fascista. Pô. Você não viu o sorrisão com que o Putin me recebeu? Aquilo não é pra qualquer um, não.

— Ele sorriu pra mim! — se intromete Janja, irritada porque uma matriosca grande não se encaixa na menor. Será que eu aviso?

— Pra mim, Janja. Você sabe que foi pra mim.

Eles ficam nessa de “pra mim” de um lado e “pra mim” de outro. Sem chegar a nenhuma conclusão quando a quem o papai Putin ama mais, pergunto:

— O que foi que o Putin te disse, Lula?

— Sei lá! Veio com uma história de Quarta Teoria Política, Dugin, Nova Resistência.

— Legal. Mas insisto: você não tá incomodado em ser visto ao lado de ditadores e criminosos de guerra enquanto lá no Brasil o Alexandre de Moraes só fala em defesa da democracia, defesa da democracia, defesa da democracia?

— Ah, menino! Você não entende nada de política externa mesmo.

— Nem externa nem interna — reconheço.

— Vem cá. Deixa eu te apresentar os meus amigos. É tudo gente boa. Né, Janja?

— Desisto! — grita ela, dando escândalo e espalhando as matrioscas pelo chão onde um dia bailaram czares e czarinas. — O quê?

Nǐ hǎo hěn gāoxìng jiàn dào nǐ

— Eu tava dizendo aqui pro Popov que… Popov, esse você conhece, né? É o camarada Xi.

— Nǐ hǎo hěn gāoxìng jiàn dào nǐ — minto educadamente para o ditador chinês Xi Jinping. Que, diante da proximidade do chato do Lula, e com a Janja a tiracolo, ainda por cima, pega uma torradinha com uma generosa porção de caviar beluga e sai à chinesa. Ou melhor, à francesa, porque sair à chinesa implica levar uma bala na nuca e aí já viu.

— O Xi é como um daqueles tios quietos, sabe? — diz Lula, me segurando pelo braço e me levando para conhecer outro de seus amigos ditadores. — Ele não ri da sua piada e fica só te analisando pra ver se você merece um pastel de flango. A Janja disse que ele parece o mestre Shifu do Kung Fu Panda.

— Parece mesmo — confirma Janja, muito séria.

Seguimos pelo salão.

E sem urna eletrônica!

— Esse aqui é o Emo.

— Emo? Que nem o Glauber Braga? — pergunto, me fazendo de tonto. Eu sei que ele está falando de Emomali Rahmon, do Tajiquistão.

— Esse é raiz. Tá no poder desde 1994. É tão bom presidente que teve uma eleição aí em que ele obteve 97% dos votos.

— E sem urna eletrônica — comenta Janja.

— Um dia eu ainda chego lá! — diz Lula, me apresentando agora a Serdar Berdimuhamedow, do Turcomenistão.

— É um jovem promissor! Queria que meu Lulinha fosse assim. Ele herdou o cargo do pai. Dizem que tem mania de erguer estátuas douradas de si mesmo e do cachorro dele.

— Que exótico — digo.

— Exótico nada. O cara é autêntico.

Creedence

Então tá, penso, mas não digo nada. Primeiro porque não há nada a dizer e em segundo lugar porque é extensa a lista de bandidos internacionais amigos do Lula, e ainda estamos no quarto deles. No quarto nome, digo, não no quarto no sentido de alcova. Ah, você entendeu. Diante de mim Shavkat Mirziyoyev, do Uzbequistão.

— Esse daí eu não conheço muito. Mas o Celsinho diz que ele é muito educado, fala bonito e vive prendendo jornalista.

— Por quê?

— Ah, ele diz que é por segurança nacional, defesa da democracia, caos desinformacional. Qualquer coisa assim. Conhece o To Lam? — pergunta Lula.

— Já provei uma vez num restaurantezinho na Liberdade.

— Não, Popov! Eu tô falando do meu amigo To Lam, aqui. Meu parça do Vietnã.

Na minha cabeça começa imediatamente a tocar aquela do Creedence.

— A Janja diz que ele lembra um personagem de dorama. Aliás, cadê a Janja, hein?

Carniceiro de Caracas e Miguelito

Olhamos em volta e estamos prestes a sair à procura da Janja quando aparece à nossa frente a figura sempre repugnante do ditador venezuelano Nicolás Maduro.

— Ah, Nicolás! Meu irmão bolivariano! — entusiasma-se Lula, dando um abraço apertado e cheio de cumplicidade, daqueles que a gente não vai poder mostrar na campanha eleitoral de 2026. — Conhece o Popov? — Maduro me cumprimenta e eu sinto o frango à Kiev do dia anterior se revirar dentro de mim. Vou vomitar.

Por sorte o carniceiro de Caracas sai para retocar a maquiagem no banheiro. Nisso aparece o cubano Miguel Díaz-Canel.

— E aí, Miguelito? Verdade que o wi-fi lá de Cuba ainda é a lenha? — pergunta Lula. Os dois riem, fofocam brevemente sobre a passagem de Janones pela ilha da fantasia comunista e discutem a superioridade da cachaça sobre o rum, e vice-versa. Como se lembrasse que eu ainda estava ali ao lado, Lula se vira para mim e diz: — O Miguelito aqui ama o Brasil, ama a resistência e ama mais ainda quando a gente perdoa umas dívidas deles. Você entende, né? Amizade é isso.

É o bicho é o bicho vou te devorar crocodilo eu sou

Em nosso périplo por aquele inferno, me pergunto o que fiz na vida para ter Lula como meu Virgílio. Num dos círculos, nos deparamos com Denis Sassou Nguesso, do Congo; Kassym-Jomart Tokayev, do Cazaquistão; Teodoro Obiang, da Guiné Equatorial; Abiy Ahmed, da Etiópia; e Emmerson Mnangagwa, do Zimbábue. Eles estavam sentados numa mesa, jogando biriba.

— Esse turco aí me paga. Ganhou o Nobel da Paz antes de mim, o filho da mãe! — diz Lula apontando com os olhos para Abiy Ahmed. — E poucos meses depois o país dele estava em guerra civil. Safado.

— E o Emmerson? Não vai me apresentar? — pergunto. (Como se eu tivesse algum interesse em conhecer o guerrilheiro apelidado de “crocodilo”).

— A Janja perguntou se era nome artístico, acredita? Eu disse que é nome de guerra mesmo.

O périplo de apertos de mão, meneios de cabeça, sorrisos falsos e inglês em vários tons de Joel Santana continua.

— Falta muito, Lula? — pergunto. Estou mais cansado que o Marcio Antonio Campos e o Lucas Saba depois da cobertura do Conclave.

— Ué. Você não queria conhecer todos os meus amigos ditadores?

Diplomacia é abrir portas

E é assim que tenho a duvidosa honra de cumprimentar Thongsavanh Phomvihane, do Laos; Abdel Fattah al-Sisi, do Egito; Ibrahim Traoré, de Burquina Fasso (eu tenho uns selos desse país!); Aliyev, do Azerbaijão; Lukashenko, da Bielorrússia; e Min Aung Hlaing, de Mianmar.

— Esse daí é general e golpista. Mas sempre muito educado nas reuniões. Se eu convidar ele pra uma viagem ao Brasil, será que o Alexandre de Moraes manda prender? Será que ele se filia ao PL? — pergunta Lula, rindo. A vodca já está fazendo efeito.

Nisso reaparece a Janja toda sorridente.

— Popov, escreve aí que…

— Não dá, Janja. A crônica já acabou.

— Escreve que…

— Não dá, já disse. Desculpe, Janja. Fica pra outro dia.

Ela me ignora:

— Escreve que, abre aspas, diplomacia é abrir portas, não erguer muros, fecha aspas. Assinado: Rosângela da Silva — insiste. Depois reclama quando dizem que ela é chata. Humpf.

noticia por : Gazeta do Povo

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