sexta-feira, 9, maio , 2025 04:22

Inspiração de novo papa, Leão XIII pediu fim da escravidão no Brasil

Se o recém-eleito papa Leão XIV seguir o precedente do último pontífice a adotar o pré-nome, é razoável esperar que o novo líder da Igreja Católica esteja preocupado com a justiça social. 

Vincenzo Gioacchino Pecci, que adotou o nome de Leão XIII, ocupou o cargo entre 1878 e 1903.Ele nasceu numa pequena cidade 80 quilômetros ao sul de Roma, foi ordenado padre aos 27 anos de idade e subiu rapidamente na hierarquia da Igreja. Aos 33 anos, já era arcebispo. 

Pecci se tornou pontífice prestes a completar 68 anos de idade. A escolha pelo nome foi uma homenagem a Leão XII, um papa que demonstrou interesse na promoção da educação e na paz entre as nações. 

Leão XIII incentivou a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a Maria, com uma predileção especial pelo rosário. Em 1898, ele publicou uma encíclica que trata do assunto em detalhes. ele reconhece a origem “celeste” desta oração, e estabelece uma “Constituição” para guiar a oração do rosário.                 

Num período em que as antigas monarquias europeias passavam por uma transformação rumo a um sistema mais moderno, Leão XIII se dedicou a repensar a relação entre a Igreja e o Estado. 

Leão XIII foi conservador, e até um tanto rígido, quanto à estrutura da Igreja. Mas a sua visão para a pobreza e as condições de trabalho dos operários levaram alguns analistas a classificá-lo como “progressista”. 

Rerum Novarum foi principal marca 

Provavelmente o legado mais influente de Leão XIII foi a encíclica Rerum Novarum, que em português quer dizer “Sobre as Novas Coisas”). Publicado em 1891, o documento tratava do pleito dos trabalhadores e pedia um sistema econômico mais solidário, no qual as proteções estatais e os sindicatos eram necessários. Até hoje, os ensinamentos de Leão XIII na Encíclica são a base do que se convencionou chamar de Doutrina Social da Igreja. 

“É um dever da autoridade pública subtrair o pobre operário à desumanidade de ávidos especuladores, que abusam, sem nenhuma descrição, tanto das pessoas como das coisas. Não é justo nem humano exigir do homem tanto trabalho a ponto de fazer pelo excesso da fadiga embrutecer o espírito e enfraquecer o corpo”, ele escreveu. 

Ao mesmo tempo, a encíclica condenava diretamente as ideias de Karl Marx, que começavam a ganhar popularidade na Europa. “A teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles membros a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública”, afirma a encíclica. 

O texto afirma ainda que a mera concordância entre patrão e empregado a respeito do salário a ser pago não é suficiente para legitimar a moralidade da relação: “Façam, pois, o patrão e o operário todas as convenções que lhes aprouver, cheguem, inclusivamente, a acordar na cifra do salário: acima da sua livre vontade está uma lei de justiça natural, mais elevada e mais antiga, a saber, que o salário não deve ser insuficiente para assegurar a subsistência do operário sóbrio e honrado”. 

O documento influenciaria o surgimento da Democracia Cristã, sobretudo na Europa. 

No período pós-Segunda Guerra Mundial, partidos democratas cristãos desempenharem um papel central na reconstrução do continente.  

Crítica à escravidão no Brasil 

O papa Leão XIII também se dedicou a outro assunto fundamental de seu tempo: a escravidão. 

Embora a maioria das nações ocidentais já houvesse abolido a prática quando ele chegou à liderança da Igreja, ela demorou a ser totalmente banida no Brasil. 

Em 1888, numa carta destinada aos bispos brasileiros, ele condenou diretamente a manutenção do regime escravista. 

“Esta doutrina desumana e iníqua é altamente detestável, e tal que uma vez admitida não há opressão, por infame e bárbara que seja, que não possa impudentemente sustentar-se com uma certa aparência de legalidade e de direito”, ele advertiu. 

A carta é datada de 5 de maio, apenas oito dias antes da Lei Áurea. 

Leão XII também foi o papa que escreveu a oração de São Miguel Arcanjo e estabeleceu que ela fosse repetida no final de cada missa — costume que seria removido depois do Concílio Vaticano II.  

O 8 de maio é uma data especial para os devotos de São Miguel Arcanjo: foi o dia que, pela tradição, ele apareceu no Monte Gargano, na região italiana da Apúlia. 

Quem eram os outros papas de mesmo nome 

O primeiro a usar o nome “Leão” (Leone em italiano e Leo em latim) liderou a igreja entre 440 e 461 — a fase final de desintegração do Império Romano. Ele seria canonizado como São Leão Magno. O complemento ao nome se refere a sua liderança na consolidação da Igreja de Roma como principal expressão da fé cristã global, e por seu zelo contra correntes doutrinárias heréticas.  

Outro papa de mesmo pré-nome, Leão X, também liderou a Igreja em um momento crucial. Ele ocupou o posto de pontífice entre 1513 e 1521. Sob sua liderança, Martinho Lutero rompeu com Roma e deu início ao que seria conhecido como Reforma Protestante. Para muitos historiadores, Leão X não foi capaz de compreender de forma adequada a dimensão da crise causada pela queda-de-braço com Lutero. 

Ao todo, cinco papas com o nome de Leão foram canonizados pela Igreja: Leão I, Leão II, Leão III, Leão IV e Leão IX.

noticia por : Gazeta do Povo

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