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quarta-feira, dezembro 18, 2024

Como assassinato de general pela Ucrânia furou 'bolha' de normalidade em Moscou durante a guerra


Assassinato de Igor Kirillov assustou moradores da capital russa, que se sentiam seguros e distantes de conflito, escreve correspondente da BBC em Moscou. O tenente-general Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química da Rússia, foi morto na terça-feira (17/12) por bomba escondida em patinete elétrico.
EPA via BBC
Há uma batalha constante em Moscou entre dois polos: a aparência e a realidade.
Apesar de quase três anos de guerra, a vida aqui pode parecer normal, com as multidões de passageiros no metrô e os bares e clubes lotados de jovens.
Mas, de repente, algo acontece para lembrar que não há nada normal na Rússia de hoje.
Esse “algo” pode ser um drone ucraniano que evade as defesas aéreas de Moscou.
Ou — ainda mais dramático — o que aconteceu na manhã de terça-feira (17/12): o assassinato de um general russo de alto escalão na saída de um bloco de apartamentos.
Quando o tenente-general Igor Kirillov e seu assistente Ilya Polikarpov foram mortos por uma bomba escondida em um patinete elétrico, a realidade da guerra da Rússia na Ucrânia bateu à porta – pelo menos para os russos que estavam próximos à cena do crime.
“Uma coisa é ler sobre isso nas notícias, parece algo distante. Mas quando algo acontece ao lado de você, é completamente diferente e assustador”, diz Liza, que mora em um prédio perto do local da explosão.
“Até então, [a guerra] parecia acontecer muito longe. Agora que alguém está morto, aqui, é possível sentir as consequências.”
“Minha ansiedade foi às alturas. Cada som me deixa nervosa e me faz pensar se vem de um drone ou apenas algum barulho em um canteiro de obras”, complementa ela.
Igor Kirillov foi morto após a explosão de um patinete-bomba.
EPA via BBC
Já ouvi muitas vezes em Moscou essa percepção da guerra da Rússia na Ucrânia como algo distante.
Tenho a sensação de que, para uma parcela considerável da população, esta é uma guerra que eles só vivenciam na tela da TV ou do smartphone.
De muitas maneiras, trata-se de uma guerra virtual.
Algo que não deixa de ser espantoso, se levarmos em conta o grande número de mortos e feridos.
Mas o assassinato de um general russo na capital do país representa um sinal de alerta definitivo, uma prova de que a guerra é muito real e está muito próxima de casa.
Isso servirá como um sinal de alerta para as autoridades russas? Provavelmente não.
Há poucos sinais de uma reviravolta da política do Kremlin na Ucrânia. É muito mais provável que Moscou intensifique o conflito.
Basta olhar os sinais.
Ao reagir às notícias do assassinato de Kirillov, o apresentador de um programa sobre política na TV estatal russa culpou a Ucrânia e afirmou que, “com este ataque, o presidente Zelensky assinou sua própria sentença de morte”.
O ex-presidente russo Dmitry Medvedev declarou que “os investigadores devem encontrar os assassinos que estão na Rússia”.
“Devemos fazer de tudo para destruir os clientes deles, que estão em Kiev”, emendou ele.
Liza diz que ‘uma coisa é ler sobre [a guerra] nas notícias’, mas, quando um ataque acontece na vizinhança, ‘é completamente diferente e assustador’.
BBC
Até o momento, o presidente Vladimir Putin não deu nenhuma declaração pública sobre o assassinato do general e do assistente.
Mas o líder russo disse muitas vezes antes que, diante de ameaças à segurança, a Rússia “sempre responderá”.
Com base nessa promessa, uma retaliação é provável.
Na quinta-feira (19/12), Putin deve realizar sua coletiva de imprensa anual de fim de ano. Normalmente trata-se de uma maratona transmitida ao vivo por todos os principais canais de TV.
Me pergunto: o líder russo usará o evento para comentar sobre o dramático assassinato de Kirillov? Ele quebrará o silêncio sobre o que aconteceu na Síria?
O presidente russo até agora também não declarou nada sobre a queda de Bashar al-Assad, o principal aliado de Moscou no Oriente Médio.
E o que ele dirá aos russos sobre para onde seu país avança, enquanto a guerra na Ucrânia — que Putin ainda chama de “operação militar especial” — se aproxima da marca de três anos?
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Fonte: G1

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